O lado bom de se errar, reside
precisamente no facto de se aprender alguma coisa com isso. Desse modo, não se
volta a cometer a mesma asneira. Não foi obviamente o meu caso…
Nem tudo foi mau. O bttgardunha
continua a proporcionar-nos um fim-de-semana memorável cheio de coisas boas, e
à semelhança do ano passado, continua a ser dos eventos em que mais gosto de
participar.
Passo então à explicação do que
se passou. Quero esclarecer, que tudo o que aqui vou contar, é exactamente
aquilo que se passou, sem tirar nem por e como o blog é meu, não há a
possibilidade do direito ao contraditório.
A viagem
Desta vez a viagem correu bem.
Decidimos ir só no dia e por pouco não nos apresentávamos sozinhos na linha de
meta. Na noite anterior o David informou-nos que a partida era só ao meio-dia e
não havia necessidade de chegarmos ao Fundão à mesma hora do sol. E de quem foi
a culpa perguntam vocês? Minha, porque não li o programa das festas, mas pelo
menos descarreguei os tracks de gps. Tivesse feito como o meu colega de equipa
e a esta hora andávamos os dois perdidos no meio da Gardunha à procurar das
fitas (ainda assim foi quase o que aconteceu.)
O parceiro
Se na edição do ano anterior
falhei no principal critério (o da escolha de parceiro) este ano voltei a
repetir e apresentei-me na meta na companhia do mesmo, o Nuno. Pelo menos
cumpri o pressuposto (e aí sou inflexível) de escolher alguém menos bonito do
que eu (atenção, menos bonito). Nesse capítulo e se houvesse prémio para a
dupla mais sexy, tínhamos arrebatado o primeiro lugar facilmente. O meu
parceiro nem sequer precisou de se apresentar com o seu bigode ultra-sexy. Um
ponto a rever pela organização para o ano.
La revancha
Se se lembram (estou a falar para
as duas pessoas que leram a crónica do geo-tour 2014) no ano anterior, o meu
parceiro, enquanto assistia à minha total destruição, Gardunha acima, ia
assobiando alegremente em jeito de “olha isto para mim está a ser um passeio no
parque”. Este ano prometi a mim próprio que o mesmo não aconteceria, mas já
devia saber que o meu parceiro deveria ter alguma na manga, para que a vingança
não acontecesse. Se o meu plano de vingança estava em marcha, o Nuno havia
concebido um só para boicotar o meu.
O gps
Eu levei o meu, com os tracks. O
meu parceiro também levou o dele, mas sem tracks e sem carga. Se isto não é
tentativa de boicote ao que se antevia um extraordinário desempenho, não sei o
que é.
Dupla de três
Este ano, o David que havia
ficado sozinho numa dupla de um (por impossibilidade do parceiro) iria
juntar-se a nós numa dupla de três. Ainda assim como é uma pessoa precavida
resolveu levar o próprio gps, com carga e com os tracks. Vês como é Nuno, é
assim que se faz.
O objectivo
O objectivo para este ano, seria nada
mais, nada menos, do que não piorar a prestação do ano passado. A fasquia
estava elevada de tal forma que o Carlos Santos assim que viu a nossa inscrição
desistiu de participar no geo-tour e acabou por participar numa prova lá para
os lados de Leiria. Ainda estive para me inscrever nessa também, só para o
baralhar.
Sábado
O dia começou mais tarde (graças
ao David) e depois de nos encontrarmos na Sertã, seguimos até ao Fundão.
Depois de nos deslocarmos até ao
secretariado fomos preparar as coisas e discutir a tática de corrida. Eu
resolvi optar pela do ano passado (seguir a fundo no primeiro dia e gerir a
vantagem no segundo) e o Nuno por outra qualquer que se terá lembrado no
momento.
10 minutos antes da partida,
chega a Paula e o Leonel que também não devem ter visto o programa das festas e
vieram só quando lhes deu mais jeito e mesmo assim chegaram a tempo. Foi bom
revê-los à partida e seria só mesmo aí, porque com o ritmo que iriamos impor só
nos voltavam a por os olhos em cima, ao jantar.
Com a conversa esqueci-me de por
o gps a zero, mas pelo menos o track estava activo e o gps carregado, já o meu
colega levava com ele apenas aquele local destinado ao gps, mas vazio, sem gps,
nem tracks, nem carga.
A saída foi a fundo a espalhar pó
pelas ruas do Fundão. Comecei a notar na cara do Nuno um esgar de dor, uma cara
de quem não consegue respirar tudo aquilo que precisa, isto só durante algum
tempo, pouco depois deixei de o ver, tal o ritmo diabólico em que seguia. A coisa estava a correr bem. Uns quilómetros
depois, tive um problema nas mudanças e tive de parar para o resolver sendo que
o Nuno parou para me ajudar. Que simpático, desconfio que só o fez para poder
baixar um bocadinho o ritmo cardíaco, além do mais tenho quase a certeza que
foi ele que me mexeu nas mudanças enquanto fui ao secretariado.
Pouco depois veio a primeira
subida do dia. Curta mas inclinadinha. Depois o espectacular carreiro do Cabeço
do Pião com a subsequente passagem por aquela paisagem meio lunar e o carreiro
que nos levava até à Barroca do Zêzere onde havia terminado o primeiro dia do
ano passado. Aqui terminava o gozo e começava o sofrimento com uma interminável
subida que nos levava dos 400 aos 1000 metros.
Daí até à Fraga Alta foi sempre a
descer e mesmo antes da chegada fomos brindados com um carreirinho bem bonito
até São Jorge da Beira.
O David já esperava por nós à
porta da escola onde iriam ficar as bikes. Se até aí o Nuno se tinha vindo a
poupar, daí para a frente, foi vê-lo na liderança. A caminho dos banhos
desapareceu da nossa vista, tal foi o ritmo imposto até aos balneários. Percebi
depois o motivo… as massagens. Os banhos correram bem. Quando entrámos no
balneário havia bastante vapor no ar. Percebemos depois que era aquele vapor
que o corpo larga em contacto com a água fria. Fria e sem pressão, a combinação
perfeita, que mais se pode querer? Saímos de lá, com mais dois ou três cabelos
no peito.
O Nuno como não havia levado gps
(não sei se já tinha referido isso) numa tentativa desesperada de cancelar a
nossa participação no dia seguinte, enfiou o meu gps (com os tracks e com
carga) no bolso do casaco que tinha utilizado nesse dia e na esperança que o
odor afugentasse os mais curiosos resolveu deixar ambos no balneário. As
hipóteses na sua cabeça eram várias; ou ninguém lhe tocava evitando o cheiro
nauseabundo a transpiração que o casaco emanava, ficando lá até apodrecer, ou
alguém aproveitando o “esquecimento” alheio o guardava sem dizer nada a
ninguém. Teve azar, porque os participantes do geo tour são todos sérios, e
alguém o entregou ao António Garcia. Bem reparei na cara de desespero do Nuno,
quando na pousada liguei ao António e me confirmou que o casaco e gps (com os
tracks e com carga, acho que já tinha dito isso) estavam com ele. Restava-lhe a
esperança do gps não ter carga para o dia seguinte, pois os tracks, esses,
estavam lá.
Quando encontrámos o Nuno de
novo, estava ele deitado na marquesa a usufruir de uma massagem. Não compreendi
de imediato a cara de prazer que ostentava, só depois, quando me pediu dinheiro
para pagar a massagem. Há indivíduos com uma lata impressionante.
O jantar correu bem. Depois do
jantar a organização presenteou-nos com um passeio nocturno (até ao autocarro e
de saco às costas) para fazermos a digestão antes de irmos dormir. Agradeço a
ajuda do Luís Cordeiro que se prontificou para levar o meu saco em cima do seu
que tinha rodas. Acredito que se tenha arrependido, tal o peso que aquilo
mandava, mas aguentou-se até ao autocarro de sorriso nos lábios. É este o
espírito do Geo Tour e é também por isso que gosto tanto disto.
A viagem para a pousada foi um
misto de sensações; muito calor, enjoos, flashes, má disposição, enjoos, quase
vómitos e outras coisas más. Quando lá chegámos ainda fiquei um bocado a
recuperar com o ar fresco da noite na tentativa de conseguirmos um quarto nas
casas de casais, mas como eramos um casal de três cheirou a badalhoquisse à
senhora e acabámos por ir dormir na camarata da pousada, nós e mais 20 (no
mesmo quarto). Ainda bem que fomos, porque com o passeio depois de jantar o
Ernesto, o Afonso e o Diogo prepararam um reforço (já a pensar nos 85
quilómetros do dia seguinte) à base de queijo da serra, pão, vinho tinto e
voilá fomos dormir muito mais compostinhos. Não posso deixar de referir o
pijaminha à macho que o Ernesto envergava. Que coisa espectacular. Quanto mais
não fosse, só por isso valeu a pena ir ao Geo Tour. É que além do mais o
Ernesto fazia-se acompanhar daquela atitude de gaja que sabe que é boa e gosta
de se mostrar só para podermos sentir aquela sensação de -podes ver mas não
tocas.
Acabei por dormir com um olho
aberto não fosse o Nuno aprontar alguma para o dia seguinte que pudesse
comprometer a nossa prestação.
Domingo
Como não conseguiu, ao
pequeno-almoço, fez as torradas dele e estragou a torradeira de propósito. O
objectivo era apenas tramar-me a mim,
mas graças ao Nuno acabámos quase todos por comer pão congelado. Quem quiser
agradecer pessoalmente ao Nuno, diga que eu disponibilizo o contacto.
Ainda assim o seu plano
maquiavélo-diabólico ainda não tinha terminado.
Chegados a São Jorge da Beira dirigimo-nos
à escola preparar as bikes para o segundo dia. O meu gps (o que tinha os tracks
e por esta altura só meia carga) seguia juntinho a mim, para não desaparecer
novamente. O David havia decidido seguir connosco (isto se conseguisse aguentar
o ritmo) o que desmoralizou um bocado o Nuno, porque também ele tinha um gps
com os tracks e com carga.
Ainda assim enquanto subíamos a
pé para a escola, o Nuno seguia de sorriso nos lábios, enquanto eu e o David
com os ombros e as costas doridas do dia anterior. Pudera com uma massagem
ainda por cima aqui à conta do pato, não podia ir de outra forma. A mim além
das costas doía-me também o ego.
Tal como no dia anterior,
partimos depois do nosso grupo, nada que nos preocupasse, pois com o ritmo que
iríamos impor depressa chegaríamos à frente. O aquecimento fez-se com a subida
que nos esperava.
Gostei imenso de fazer o carreiro do dia
anterior (perto de Barroca do Zêzere) em sentido contrário.
Os quilómetros foram passando a
bom ritmo sem que se desse por isso, consequência do excelente percurso
idealizado para este segundo dia, mas o Nuno ainda não tinha desistido do
boicote, vai daí, quando parámos para tirar uma fotografia, resolveu partir-me
o suporte do gps (aquele que tinha os tracks e meia carga). Valeu-nos o David
que tinha levado o seu (curiosamente com carga e com os tracks) para nos
orientar até ao final. O meu foi até ao Fundão no bolso.
A chegada ao Fundão fez-se a
subir e com vento contra. Valeram-me os dois armários que me acompanhavam para
me esconder atrás.
Epílogo
Tudo está bem quando acaba bem. O
Geo-Tour 2015 foi mais uma vez dois dias de festa extraordinários. Adoro esta
gente que faz tão bem e recebe ainda melhor.
Os objectivos foram cumpridos, o
meu –fazer o meu parceiro sofrer um bocadinho mais que eu e o do meu parceiro
que não percebi bem, mas acho que era chegarmos os dois ao fim sem gps. Regressámos
a casa de alma cheia, até porque os patrocinadores ficaram satisfeitíssimos com
a nossa participação/ classificação. Eu fui o melhor da minha rua, o David foi
o melhor da dele e o Nuno, o melhor do prédio.
Epílogo II
Comecei este relato referindo que
os erros nos fazem aprender. No meu caso o erro foi propositado, porque em
equipa vencedora não se mexe. O Nuno (que é o maior) é um parceiro destas
coisas, das corridas, das festas e de todas as outras coisas que compõem uma
grande amizade, daquelas à prova de quase tudo. Digo quase tudo porque ainda não
falo com ele, mas fá-lo-ei, assim que me pague um suporte de gps novo J
Por tudo isso, tenho a certeza
que para o ano repetirei o parceiro, sim, porque a menos que faleça, é certinho que lá estarei.
nota: as fotos são minhas, do Nuno, da Senhora do btt e do Pedro Matias.
1 comentário:
Boas Ferrão.
Li a tua soberba reportagem, e que pena tenho não ter participado em mais esta aventura.
O problema do facebook. não tenho...já foste!!!
Nem soube de nada.
participei na primeira edição, e é daqueles eventos que tem que se registar na agenda.
Parabéns pelo post
Pinto Infante
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