Após uma retemperadora semana de
férias na praia nada melhor que uma corridinha para finalizar as mesmas em
beleza.
Como estava pela Figueira da Foz
resolvi participar nesta redcross trail, uma corrida (com objectivo solidário) que
se desenrolava desde a praia de Quiaios até à localidade de Maiorca e que
tirando a Serra da Boa Viagem pelo meio, não antevia dificuldades de maior. A
organização anunciava um acumulado de quase 600 metros e seria
portanto basicamente uma subida, uma descida e uma mais ou menos recta que se
estenderia por 31
quilómetros. Seria, mas não foi.
Foi com o nevoeiro de Domingo que
me desloquei até Maiorca onde já estava o João que mais uma vez me acompanhou
nesta jornada. Com os dorsais no peito e um café no bucho entrámos para os
autocarros. Quando de lá saímos estávamos à beira mar, onde iria ter início a
jornada.
Os 2 quilómetros
iniciais foram feitos na praia onde o mar de corredores ao ritmo do outro subia
e descia ao sabor das ondas aproveitando a areia mais dura. Depois começava-se
a dura subida por entre os imponentes e íngremes rochedos que se inclinavam até
lá acima. Pelo caminho passamos por bonitos carreirinhos que se iam estendendo
pela encosta sempre com a praia e o mar lá em baixo. Por essa altura
fui comendo uma barra que me caiu no estômago como uma pedra o que me obrigou a
baixar o ritmo para não vomitar. No primeiro abastecimento apenas consegui beber,
mais porque tinha que me manter hidratado. Entretanto o João já seguia lá mais
à frente.
A envolvência entretanto mudara e
apesar de devagar, ia deixando para trás árvores, arbustos e vegetação mais ou
menos rasteira típica de montanha. Assim se foi até ao segundo abastecimento.
Mais uma vez apenas água para hidratar. Apesar de não me sentir pior, também
não havia melhorado grande coisa e sem comer não havia tendência para isso.
Ao meu lado iam passando agora
eucaliptos. Sem dúvida a parte mais feia do percurso. Também fui encontrando
algumas subidas, curtas mas íngremes.
O terceiro abastecimento trouxe
muitos túneis, muita pedra e ainda alguma água mas dentro dos sapatos. Por esta
altura comecei a sentir-me menos mal e fui passando alguns participantes que
seguiam em pior estado do que eu. Antes do reforço final apareceram umas 4
paredes que acabaram com a pouca energia que ainda tinha. Ainda tomei um gel a
medo mas de qualquer forma já era tarde. The damage was done. Após 29 quilómetros com
uma barra e um gel, não podia pedir mais. Tinha a certeza que os 600 metros de acumulado
haviam passado há muito, mas de qualquer forma restava-me continuar e só não
chegaria ao fim se caísse para o lado.
No último reforço faltariam apenas
três quilómetros como me informaram. –pois sim, pensei. Afinal foram mais dois
além desses três, mas quando se segue sem forças dois quilómetros podem parecer
intermináveis. E assim foi. De qualquer forma lá me fui arrastando pelas
planícies de Maiorca e pelos campos de arroz em perfeito piloto automático só
com a meta na cabeça. Quando apareceu, fiquei feliz, a sério, mesmo feliz.
O João já havia chegado e estava
por ali à conversa e à minha espera.
Para corrida relativamente
descontraída, saiu-me um empeno à antiga. Bem sei que a culpa foi
maioritariamente minha porque ao longo de 34 quilómetros quase
não comi nada, mas os 1707
metros de acumulado ascendente também ajudaram e de que
maneira.
Assim como assim vinguei-me e fui
repor tudo com um rico cozido à portuguesa.
Dormi bem nessa noite.
(como não tenho fotos ficam algumas das férias)