O André passa a vida a
correr, contudo, não é dessa forma que passa pela vida.
Que quantidade de vida
é possível viver em 25 anos? Varia seguramente de pessoa para pessoa.
Passado pouco mais de
25 anos, o André já viveu mais do que a maioria das pessoas e acima de tudo, aprendeu
a ser feliz.
Desde outubro de 89 o
André tem crescido para cima, como as árvores, formou-se em economia, tornou-se
atleta a tempo inteiro, correu uma maratona, tentou alcançar o cume do Monte
Branco, participou em vários projectos musicais, dominou a procrastinação e
mudou de vida quando a consciência assim o ditou. Actualmente é feliz, apesar
de ainda lhe faltar fazer muita coisa (talvez seja por isso mesmo).
Por esta altura, o
André (que já foi economista praticante) encontra-se no Brasil, em preparação
para a BR 135+ uma das corridas mais duras do mundo, com apenas 281
quilómetros. Mas como é que tudo isto aconteceu?
O orto do André, deu-se
na sua terra natal, Proença-a-Nova, em 2012 com a primeira corrida de montanha (já
havia passado por uma experiência semelhante em 89 quando saiu de dentro da sua
mãe). Por essa altura estudava economia à custa de poupanças amealhadas durante
o serviço militar voluntário e de um empréstimo universitário. Dono de uma natureza
obsessiva e de uma mente maior do que o espaço físico que lhe estava destinado,
começou a treinar sozinho com o propósito de domar ambas de alguma forma. Pelo
caminho, a corrida tornou-se também um processo de autoconhecimento o que o
levou ao budismo. Por esse tempo estabeleceu um equilíbrio precário entre a
competição e a meditação, que só mais tarde conseguiria resolver. Hoje coexistem
de forma pacífica.
Mas o André enquanto
ser, é muito mais do que isto, é desmesuradamente grande na sua vontade. É um
exemplo a copiar, porque largou as amarras, aquelas amarras que nos mantém enganadoramente
seguros, que quase sempre nos impedem de avançar para lá dos subúrbios e viver
a plenitude das coisas. O André deixou, a estabilidade do emprego, da família, dos
amigos do bem-estar (ainda que ilusório) e agarrou-se à enorme vontade de viver
feliz. É que a felicidade não é um objecto estático, é um conjunto de coisas
(pequenas ou grandes, consoante a importância individual) que se vão
coleccionando e nos vão enchendo por dentro. Quanto mais cheios de coisas boas,
mais felizes seremos. Acima de tudo, é o aproveitarmos o tempo que nos é
disponibilizado da melhor forma, que nos fará realmente felizes. E só o facto
de não sabermos quanto tempo é esse tempo, é o principal motivo para que não
nos esqueçamos dele.
Oscar Wilde disse uma
vez viver é a coisa mais rara do mundo. A
maioria das pessoas apenas existe. Desconfio que o André se enquadra
naquelas raras, as que vivem, mas de braços bem abertos de forma a envolver
nesse abraço o maior número de coisas e pessoas que conseguir, e fá-lo-á seguramente
antes de ser velho, pois como se sabe, os antigos carregam nas dobras das
pernas memórias, que lhes atrasam a marcha.
O André nem sequer se
limita só a sonhar. Nas suas palavras —sonhar é pra fracos— e é-o apenas porque
sonhar, faz-nos entrar numa dimensão que nos iliba de toda a responsabilidade
—designar como sonho algo que é projectável, é a primeira falha de
planeamento—. Por isso o André projecta aquilo que se propõe alcançar, mas
fá-lo ciente da possibilidade de fracasso, não sendo isso que lhe corta o
caminho. Quanto mais trabalhar nesse sentido, mais se aproximará da glória, não
pelo reconhecimento alheio, mas pela vontade própria de ser feliz, e alguém lhe
pode negar esse direito?
É óbvio que nem todos
os planos se concretizam à primeira, mas é por isso mesmo que cada vez que lhe
morre um sonho, lhe nasce um sorriso nos lábios, o sorriso próprio de quem
compreende que o fracasso é só mais um degrau no processo.
E depois?
Depois resta-lhe continuar a ser
feliz e a seguir o caminho que passa por correr a Maratona dos Jogos Olímpicos
de 2016, a Marathon des Sables, a 6633 Ultra, a Iditarod Trail Invitational, a
Badwater, a Spartathlon Ultra Race, aprender a tocar piano e saxofone, formar-se
em física, escalar as montanhas que puder, percorrer a pé a Rota da Seda, participar
numa expedição espacial, fazer uma travessia num barco à vela, aprender a
pilotar aviões, aprender a cultivar recorrendo à permacultura e no final
atingir a iluminação. Não sei se conseguirá fazer o caminho todo, mas tenho a
certeza que desistir não faz parte do plano.
quem quiser seguir o André, pode fazê-lo aqui:
https://www.facebook.com/afacastro?fref=ts
http://oquevive.wordpress.com/author/oquevive/
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