A chuva caía copiosamente enquanto me deslocava até à aldeia raiana de Aranhas. Tal como aqui havia dito, desloquei-me até lá na passada sexta-feira. Sempre podia dormir mais umas horitas. Após ter chegado, ainda me mantive alguns minutos no carro à espera que a chuva abrandasse. Para molha já chegaria no dia que aí vinha.
Foi com esse pensamento que fui dormir, mas também certo que não seria esse pequeno pormenor que me estragaria o dia.
Entrei numa espécie de sono ou sonho que se prolongou noite fora…
O despertar, ou o que me pareceu na altura foi cedo; seria mesmo assim?
Na dúvida e entre a realidade e o sonho lá fui seguindo a rotina habitual nestes dias. E que bonito seria se estivesse sol lá fora. Mas como no meu sonho mando eu, o dia estava mesmo solarengo. Lindo…
Uma tia do meu pai que mora na casa em frente já se havia levantado e do alto dos seus 89 anos já havia acendido o lume, e preparava-me o pequeno-almoço. Apesar de me ter partido o coração, não pude sentar-me com ela e aproveitar o momento. Não podia deixar os cinco companheiros de aventura à espera, seria uma falta de respeito que eu não iria cometer. Acabei por prometer lá voltar um destes dias (e será breve) onde nos havíamos de sentar os dois à lareira e conversar durante um bom bocado a comer pão e queijo.
A viagem até à fronteira decorreu sem sobressaltos. A entrada em Espanha também. Não nos mandaram parar, afinal a cimeira da NATO era do lado de cá.
Após passagem em Valverde del Fresno seguimos até à pequena mas bonita localidade de Eljas. Eljas é a subir ou a descer. Pouco há de plano numa localidade que fica situada em plena Sierra da Gata, numa das suas pedregosas encostas.
O Início foi para baixo, e isso não é necessariamente bom, mas neste caso até foi. Os primeiros quilómetros foram feitos a rolar, como convém, mas rapidamente entrámos em bonitos carreiros e estradas rurais que nos levariam à povoação de San Martim de Trevejo. A partir daí, entrámos num sobe e desce constante através montes, vales, cancelas, riachos, rebanhos e cães, muitos cães com a particularidade de serem todos iguais, grandes e brancos com o focinho preto. Numa ocasião um desses referidos cães, tombou a cerca para vir atrás de nós e com ele as ovelhas. Desconfio que ainda hoje devem andar a junta-las. Encontrávamo-nos no Vale de Xálima.
Estávamos a caminho da conquista do castelo de Trevejo. Também esse para variar fica no cimo de um monte. O caminho que nos leva até lá é uma bonita calçada romana. Três quilómetros de subida naquele terreno. Mas a vista e a povoação que circundam o castelo, valem inteiramente a subida. Nem o vento cortante nos levou dali mais depressa. Depois de devidamente registado o momento iniciámos a descida para o vale que nos levaria depois (e a subir) até Villamiel onde parámos num pequeno café para comer umas tapas e umas canhas. Pois é, tinha que ser. Isto também é cultura. Ainda tivemos um episódio com um amigo que nos tirou três fotografias, conseguindo desfocá-las todas. Afinal o vinho em Espanha embebeda como o de cá.
Após alguma dificuldade para sair do emaranhado de ruas de Villamiel, iniciámos o regresso até Eljas. A parte mais bonita mas também mais dura esperava-nos.
Começamos com uma subidita para aquecer e em calçada para variar. A par comigo seguia o Tiago. Conseguimos fazer a subida quase toda sem trocar uma palavra, e não foi por antipatizarmos um com o outro.
Continuámos a subida onde passámos por diverso gado bovino entre o qual diversos touros em pontas. Felizmente o tamanho era proporcional à calma com que nos receberam. Chegados lá acima esperava-nos uma descida muito técnica com muita pedra que deu origem a algumas quedas, a minha incluída.
Já com Eljas à vista iniciámos a subida para Puerto de Santa Clara, no topo da serra. Esta sim, a subida em todos os aspectos. Dura, muito escorregadia mas com a paisagem mais espectacular que alguma vez vi nestes já alguns aninhos de btt. Um tapete de folhas dourado a cobrir (mais) uma calçada ladeada de milhares de árvores levou-nos até lá acima. Apesar da dureza, deve ter sido a subida que menos me custou fazer.
Lá no alto a vista soberba arrebatou-nos a todos. Um verde relvado acompanhou-nos durante as primeiras centenas de metros, mas o pior estava para vir. 7 quilómetros de descida feita em cima de pedra. Nunca tinha visto nada igual. Nem a Ruta das Sombras é tão complicada. Foi quase uma hora a descer para fazer esta distância. Pela primeira vez na vida, cheguei ao fim dum passeio com dores nos pulsos em vez de nas pernas.
Uma referência aos companheiros de viagem – excelentes. Boa disposição constante, sem stresses, sem confusão nenhuma. Nas palavras do António - Com malta assim, viver e conviver não é difícil, é viciante!!!
Um grande obrigado ao António alguém que muito estimo e admiro e o culpado por este dia magnífico.
Ao que parece este passeio faz parte de uma trilogia naquela zona. Eu estarei lá.
Diz o ditado que de Espanha nem bom vento, nem bom casamento, mas a semana que passou só nos trouxe coisas boas. 4 golinhos e uma exibição de encher o olho frente aos campeões do mundo e da Europa. Quanto a mim, aquelas paisagens e todos os locais por onde passei deixaram-me de alma cheia. Dificilmente esquecerei (e ainda bem) aquelas cores e aqueles cenários. A sensação magnífica que transmitem que não consegue ser inteiramente captada nas fotografias, apesar de termos tentado.
Ainda tenho todo o esqueleto a chocalhar; e que bem que isso sabe…
O relato do António
O relato do João Afonso
O relato do António
O relato do João Afonso