quinta-feira, 3 de abril de 2014

5 empenos 2014

Este ano o relato dos 5 empenos será um pouco diferente do habitual. Será sobre as pessoas que ano após ano fazem com que os 5 empenos aconteçam, aparecendo pela Sertã, sempre no último sábado de Março.
Perdoem-me todos os outros, mas tenho que destacar meia dúzia de intervenientes que me acompanham desde o início desta aventura.



Bruno Lopes (gigante) – quando lhe liguei à coisa de um mês com a ideia de fazer um jersey para esta edição dos 5 empenos respondeu-me prontamente -não acho grande ideia-. Quem conhece o Bruno e sabe o grau de entusiasmo com que se dedica ao btt e aos amigos, compreenderia rapidamente que algo de errado se estaria a passar. À minha insistência voltou a dar a mesma resposta, ao que tive que perguntar -olha lá, tu já mandaste fazer um jersey?- ao que respondeu –tu estiveste a falar com o Alex!-. Curiosamente não tinha estado, apenas pensámos na mesma coisa, só que como é normal o Bruno não perdeu tempo e já tinha o processo em andamento.
Faço os 5 empenos por mim, pelos meus amigos e por todos os que gostam de pedalar e se queiram juntar a nós neste dia. É apenas um dia de festa, de reunião dos amigos, alguns deles que só se encontram nesta altura, mas um gesto destes, não pode deixar de me deixar emocionar e de me fazer compreender que foi talvez por culpa das bicicletas que fiz GRANDES amigos. Um agradecimento especial a todo o pessoal da Ardog Btt que contribuiu para o jersey que me ofereceram, e para os dois principais culpados, o Alex (já lá vamos) e o Bruno Lopes (gigante) – durante uns anos julguei que a alcunha de “gigante” fosse pelo motivo inverso ao seu tamanho, agora compreendo que de facto “gigante” ainda fica muito aquém do tamanho de tal individuo como pessoa que é. É óbvio que não o digo só por isto, mas por todo um conjunto de situações vividas ao longo de todos estes anos. Quem o conhece, sabe que nem sequer estou a exagerar.



Alex, este é outro. Caracteriza-se por um sorriso e calma constantes (à excepção de quando se trata de descer). Não conheço ninguém que não goste deste fulano, e isso quererá dizer alguma coisa. Este e o de cima, juntos, são uma verdadeira dupla, são das melhores personagens que conheço.
O Alex chegou no dia antes como é normal, só que desta vez além da Cláudia e da Carolina trouxe também uma barba que lhe conferia um look extremamente sexy. Entretanto a festa já havia começado ao jantar com a presença do Jerónimo e da Isabel. Ainda assim ainda foi a tempo de nos apanhar e acompanhar até à hora de ir repousar. Vinha um bocado apreensivo, porque desta feita a sua bike estava doente e trazia um camião emprestado para os empenos do dia seguinte. Disse apreensivo? Nã, vinha com o mesmo sorriso de sempre e com a habitual vontade de se divertir.



Jerónimo, o verdadeiro. Presente desde a segunda edição (a primeira foi experimental) e peça fundamental para a realização dos 5 empenos. O Jerónimo dá o toque cultural à coisa. O dia nunca fica completo antes do Jerónimo partilhar o que tem a dizer sobre tudo isto. Alia a boa disposição ao seu humor muito peculiar, que faz dele a pessoa única que é. Tem a bondade de trazer todos os anos vinho do porto e bolos para que todos se sintam fortes no início cheiinhos de vontade de pedalar. Afinal, os empenos podem acontecer de várias formas, mas sem o Jerónimo a coisa não seria a mesma. O Jerónimo adequa sempre a bike e o capacete à situação, este ano os componentes e o capacete eram de cor castanha com um 8 como elemento demarcador da 8ª edição. Não fica nada ao acaso e faz questão de mostrar ao que vem.
Como é costume chegou no dia antes e sempre mortinho por empenar, seja a pedalar ou de outra forma qualquer, ainda assim não é fácil acompanhá-lo. A festa começou logo aí e estendeu-se jantar fora até às três da manhã quando achámos que talvez já fosse altura de ir dormir, porque umas horas depois havia uns empenos para fazer. A opinião foi unânime? Claro que não, o Jerónimo foi dormir, mas foi contrariado. Ainda assim tivemos a companhia de duas garrafas de porto (edição especial 8ª edição 5 empenos) e uns gins tónicos para cortar. Dormimos muito mais compostinhos. Faltou o cavaquinho do Domingos e a festa teria sido completa.



A Isabel. A verdadeira mulher do norte, apesar disso não diz aneiras, a não ser que comecemos a dizer que o Domingos foi para o Algarve portar-se mal, aí vai tudo aviado a caralhos e foda-se. Tem a vantagem de ser completamente genuína e é isso que me faz gostar dela (mas só um bocadinho ó sargento). Desta feita foi a companhia e condutora do Jerónimo, uma vez que o Domingos estava no Algarve a ver as suecas. As viagens correram bem, mas o desgraçado Jerónimo teve que as fazer de mãos nos bolsos. Nada de confianças se o Domingos não está presente (ao que parece a certa altura teve comichão no nariz e teve que o coçar na porta do carro). É uma menina de quem gosto muito, à semelhança do seu sargento, que desta feita não pôde estar presente, mas esteve exemplarmente representado. Fiquei muito contente com a presença da menina Isabel, afinal a parte feminina foi só ela e a Paula, sim porque o Faísca não pôde vir.


O Nuno. Já tanto se disse sobre este verdadeiro atleta. Provavelmente o elemento mais bonito de toda a comitiva. O seu bigode deixa o mulherio à beira da loucura, tal como o próprio afirma –os homens criticam é porque deve estar a resultar, vou deixar estar. O Nuno é mais que um parceiro das bikes ou das corridas. É um parceiro na vida e uma pessoa com a qual se pode contar para qualquer coisa. Não consegue dizer que não a um desafio, seja a correr, de bike ou outra coisa qualquer. Não é à toa que foi o meu parceiro do geo-tour, é preciso alguém que dê um toque profissional à equipa. Para verem que não falo à toa, no sábado veio aos 5 empenos, foi dos últimos a sair do jantar e no domingo foi a Oleiros arrebatar o terceiro lugar numa prova de 10 quilómetros de corrida. É assim, desconfio que à tarde ainda deve ter feito um treino de recuperação a 4 minutos o quilómetro, só para abrir o apetite para o jantar. Uma máquina, portanto. Foi participante na primeira edição com o Francisco e o Machado e ainda só faltou uma vez com a clavícula partida.



O Sérgio. Apesar de sermos de relativamente perto, só nos conhecemos na Universidade. Começou logo aí uma das maiores amizades que mantenho até aos dias de hoje. Não é difícil gostar do Sérgio, é uma das melhores pessoas que conheço. Não o conheci nas bikes, é um facto, mas a nossa amizade foi crescendo por causa disso mesmo e também da corrida. À semelhança do Nuno, o Sérgio não é pessoa de recusar um desafio. Tem a particularidade de ter um estômago fraquinho e na primeira subida (a correr ou de bike) deita tudo cá para fora e a partir daí é tudo diferente. Quando todos os outros começam a ficar cansados, o Sérgio recupera dos achaques iniciais (e muitas vezes intermédios) e acaba muito melhor do que começou. Apesar disso o panorama parece estar a mudar, nesta edição dos 5 empenos, aguentou o pequeno-almoço até ao fim. Desconfio que assim que troque de bike vai ser um caso sério. O seu nome do meio é Sofrimento.


O João Tiago. Companheiro de corridas e de outras aventuras. Começamos no trail na mesma altura e estreámo-nos no K42 na Lousã. Desta feita conhecemo-nos por causa da corrida e não das bikes, mas a nossa amizade vai continuar também por aí com certeza. Apesar de nos conhecermos só há meia dúzia de anos, tenho o João como um verdadeiro amigo e sei que o contrário também é verdade. Além de grande corredor, tem um enorme espírito de sacrifício e não se importa de sofrer para atingir os objectivos a que se propõe. Já tinha participado nos 5 empenos mas só no jantar. Desta feita pegou na bike e acompanhou-nos durante todo o percurso e nem sequer tivemos que esperar por ele. Além da corrida, já tenho companhia para a bike.


A Paula e o Leonel. Conheci-os na quinta edição dos 5 empenos. A única em que o percurso foi completamente diferente e onde levámos com uma chuva diluviana acompanhada de um frio gélido. Acabou por ser um ano memorável e talvez por isso repetiram todas as vezes, à excepção do ano passado em que a Paula foi mãe. São dos casais mais simpáticos que conheço e já partilhámos umas quantas aventuras desde essa altura. O Leonel anda um bocadinho mais, mas a Paula é muito melhor a desencaixar os pés dos pedais.


O Carlos. Este é o verdadeiro bttista. Com plano de treinos, leva o btt a sério. Por vezes, com alguma dose de sofrimento mas sempre de sorriso na cara. Acho que é isso mesmo que o caracteriza, um sorriso constante. Conheci-o na quinta edição dos 5 empenos, quando ainda “mal sabia pedalar” e onde participou pela primeira vez, a mesma da Paula e do Leonel. Apanhou as piores condições possíveis mas gostou tanto que disse que voltaria todos os anos e como é um homem de palavra nunca mais falhou a nenhuma edição. Apesar de pró, consegue por os amigos à frente da competição quando é necessário, e é isso que define uma pessoa. Continua a vir, diverte-se e costuma trazer sempre mais alguém com ele. Este ano foi o Alexandre. Só não gosta de ter que apear nas subidas, sempre que isso acontece fica fulo, mas nunca perde o sorriso que o caracteriza.


O Luís Cabaço. Já o conheço há uns anos, desde os primeiros tempos da selinda. Temos vários quilómetros em conjunto de estrada ou btt, mas com mais ou menos sofrimento, acabamos sempre por chegar ao fim. Esta foi a sua primeira participação, porque os 5 empenos calham em dia de trabalho, mas este ano o “patrão” deu folga e conseguiu juntar-se a nós. Ainda bem que o fez. Era dos únicos que não ia ao engano, uma vez que conhece isto tudo por aqui e ia sorrindo com algumas opções tomadas entre uma subida e outra ao jeito de –olha, escolheste a melhor das duas. Quando preciso de ajuda na mecânica (que é quase tudo para além de trocar uma câmara de ar) recorro a ele, é certo que se faz pagar bem, às vezes chego a agradecer-lhe duas vezes seguidas.


O David. Veio a primeira vez e voltou sempre, apesar de também conhecer isto tudo por aqui. Como quase todos vem pelo convívio e pela diversão. Acho que acaba por sair sempre satisfeito. Diverte-se com isto e isso é que importa. O seu entusiasmo acaba por ser contagiante. Já partilhámos alguns quilómetros em conjunto, mas muitos mais estarão para vir certamente.


Um abraço especial ao Bandeiras que já conheço há bastantes anos, apesar de só acabarmos por nos ver esporadicamente. Fiquei mesmo contente que tivesse vindo e espero contar com ele nos próximos anos.

Outro ao Nando que acaba sempre por ser o mecânico oficial do evento. É brutal vê-lo em acção, principalmente porque não temos que fazer nada. Ele desmonta, arranja, monta, testa e entrega como deve ser. No ano passado, chegou a desmontar uma pedaleira, em três tempos. Assim vale a pena. Ano em que ele não possa vir, os 5 empenos serão cancelados.
Last but not least um beijinho à fotógrafa do evento, a Carla pelas execelentes fotografias (já é costume) e à Claúdia, a condutora do carro de apoio, que acabou por transportar o Bruno depois da queda.



A todos os outros amigos não menos importantes, resta-me agradecer a vossa presença, porque os 5 empenos só acontecem por causa de vocês. Eu iria na mesma, mas as estórias, essas, seriam certamente muito menos interessantes. 

quinta-feira, 13 de março de 2014

Geo-tour


Fumo, fumo preto, reboques, quase festivais, boleias, pantufas, paisagens deslumbrantes, ombros espapaçados, empenos, noites bem dormidas, autocarros, amigos, táxis que se conduzem sozinhos, hiperespaço, balanços, um taxista peculiar, quase compras de carros, batatas fritas, dias de sol, mulheres nuas e bikes, pois é, também houve bikes, uma ou duas pelo menos.

Nem sei por onde começar, desta fez acho que vou fazê-lo pelo final, só para variar. O geo-tour foi dos melhores eventos em que já participei, e olhem que já participei em mais de três seguramente, vá lá, talvez dois, ver bikes na televisão talvez não conte. Mas foi bom, muito bom mesmo. Acabei moído, mas satisfeito e de alma cheia e pelo que fui ouvindo e vendo parece-me que esse foi um sentimento comum a todos os participantes.



E agora só para contrariar, vou voltar ao início.
                                           foto: Carla Dias
                                          foto: Carla Dias
O parceiro.

Vou começar pelo parceiro. Má escolha. Deixei-me levar pelo sentimento. Já sou amigo do Nuno há uns anos, considero-o um verdadeiro amigo e sei que o contrário também é verdade, mas falhei nos critérios. O primeiro critério (não discutível) para escolher o parceiro de aventura foi o de arranjar alguém menos bonito que eu, atenção que disse menos bonito e não mais feio. Colocou-se aqui o primeiro problema, qualquer um daqueles que conheço preenchia o pressuposto. Segundo critério… acabei por ficar só com o primeiro e escolhi o Nuno pelos motivos indicados anteriormente. Continuo a dizer que foi uma má escolha, apenas por um pequeno pormenor, esqueci-me do critério mais importante, escolher alguém que andasse menos que eu para que pudesse apreciar tanto a paisagem como o sofrimento alheio. O Nuno tem a capacidade de olhar para o plano de treino e achar que é fraco, vai daí fá-lo em dose dupla. É com este tipo de gente que me meto. Não correu bem (para o meu lado).

                                           foto: Nuno Gomes
A festa.
O que estava programado é que a festa iria começar na sexta à noite e só terminaria no domingo à noite. Com ou sem empeno era assim que seria, ou quase.
Ficou decidido partirmos de Abrantes em direcção à diversão. O plano estava em andamento e a festa também.
                                           foto: Agnelo Quelhas
                                           foto: Agnelo Quelhas
                                          foto: Agnelo Quelhas
A viagem.
Decorridos os quilómetros iniciais, o carro, a fim de salvaguardar o nosso descanso, bem como a nossa prestação resolveu que não lhe apetecia ir passar o fim-de-semana fora. Mas foi, contrariado e devagarinho, mas foi. A nuvem de fumo em que os outros condutores se viram envolvidos era uma espécie de antecipação do que se passaria no dia seguinte, mas com pó, afinal o Nuno tinha decidido que o segundo dia seria só para gerir a vantagem.
Ficámos parados no cruzamento para Alpedrinha onde nos íamos dirigir para o festival Aragens que se realizaria na sexta e sábado. Como a prova só teria o seu início às 10 da manhã, havia tempo para tudo. Havia, mas não houve. Entre contactos com a assistência em viagem lá marcámos o nosso regresso para domingo. Já o carro regressaria mais cedo.
Acabámos por pedir ao Carlos de Leiria que apesar de já estar deitado se disponibilizou a ir-nos buscar a Alpedrinha comprometendo o seu descanso e quem sabe a sua prestação. O plano estava em acção, não iríamos ao Aragens, mas pelo menos tentávamos desgastar os adversários não os deixando dormir convenientemente. Desconfio que o Carlos se deve ter arrependido amargamente de ter posto o telemóvel a carregar, ainda assim chegou ao pé de nós de sorriso nos lábios como é habitual (apesar de estar a chorar por dentro).
O ponto alto da noite deu-se com a chegada do reboque. O abrir da porta veio acompanhado de um fatinho de treino daqueles usados para treinar nada e de umas pantufinhas aos quadrados a combinar com coisa nenhuma, a não ser talvez com o penteado do feliz usuário. O reboque seguiu para um lado e nós para o outro.
E foi numa viatura que tinha o rádio ligado aos piscas que chegámos ao Fundão.
Podemos sem receio afirmar que a viagem tinha corrido bem. O festival também (ouvimos dizer).
                                          o nosso chofer particular com o habitual sorriso.               foto: Nuno Gomes
                                          foto: Agnelo Quelhas
                                          foto: Nuno Gomes
O dia S (sábado).
O despertar foi tranquilo. Foi com a mesma tranquilidade que nos dirigimos para o pavilhão multiusos do Fundão onde se daria a partida do geo-tour.
Após o levantamento dos dorsais, começamos a encontrar caras conhecidas e a delinear a estratégia para a corrida (cada um a sua, como convém numa dupla). A do Nuno consistia em seguir a fundo e a minha em seguir um bocadinho menos a fundo (estávamos quase em sintonia). A minha acabou por ser a vencedora, uma vez que o Nuno não se podia afastar de mim mais de 30 segundos.
Depois do breefing preparámo-nos para a partida. A mesma foi feita por handicaps. A Paula e o Leonel partiram no primeiro grupo, quer dizer, só a Paula, o Leonel esqueceu-se. A Paula teve que voltar para trás a chamá-lo.
Pouco depois fomos nós. O primeiro dia levava-nos do Fundão até Barroca do Zêzere, numa extensão de 72 quilómetros num sobe e desce constante tipo serrote com mais de 2000 de acumulado positivo, “a walk in the park”, portanto.
Saímos do Fundão a bom ritmo atrás do Carlos, que devido às poucas horas de sono seguia a fundo pelo Fundão “a fora” com os olhos pesados sem reparar na setinha do gps. Pouco depois entrámos na terra em caminhos rurais onde o verde predominava devido à intensa chuva da época com o topo da Estrela branco como pano de fundo. O cenário estava montado e bem. Eu entretanto esforçava-me por seguir o Nuno, mas ainda conseguia ver a paisagem. Mais ou menos no quilómetro 20, ao desmontar para passar uma ponte apercebo-me que a roda traseira fora do sítio estava presa e não rodava solta. Desconfio do Carlos, com medo da nossa prestação e como vingança de o não termos deixado dormir tudo o que queria.
Depois de resolvido o problema lá seguimos a caminho da recuperação. A seguir ao reforço (que se encontrava logo antes dum reboque que atirava o pessoal ao chão) começava a parte mais dura do percurso. Um sobe e desce constante entremeado por alguns single tracks foi o menu servido para o resto do dia, mas a melhor parte estava para vir. Entretanto eu lá ia seguindo o Nuno fartinho de lhe olhar para a roda.
Mas a 3 ou 4 quilómetros do final entrámos num cenário deslumbrante. Passámos umas dunas formadas pelas escavações das minas da Panasqueira e logo depois um maravilhoso e rápido single track que nos levava à meta.
Por ali ficámos a comer batatas fritas até o autocarro nos levar a Silvares para a banhoca antes do jantar.
Não foi preciso perder tempo a delinear a estratégia para o dia seguinte, porque o Nuno já a havia anunciado previamente – gerir a vantagem e para quem podem perguntar? Isso não interessa, só gerir. Ainda que fossemos os últimos não mudaríamos de estratégia.
                                                    foto: Agnelo Quelhas
                                          foto: Agnelo Quelhas
                                          foto: Agnelo Quelhas
                                                    foto: Agnelo Quelhas
O dia D (de gerir a vantagem).
A noite foi bem dormida. Acho que ainda não estava completamente deitado e já tinha adormecido. O despertar foi cedo, ainda de noite. Era preciso apanhar o autocarro do Fundão para a Barroca do Zêzere, onde iríamos começar o segundo dia. Afinal as bikes estavam lá à nossa espera. Nunca aquela associação terá guardado tanto dinheiro, à excepção da minha, que já ninguém a quer, nem eu, mas não há outra e a pé custa mais.

Começámos às 8.30. Logo no início deu para ver que o Nuno tem uma forma estranha de gerir vantagens. Ainda assim o início foi muito divertido com muitos singles e algumas zonas técnicas bem ao meu gosto. Desta vez a roda não ia a travar, mas consegui cair numa regueira daquelas feitas pelo passar das outras bikes. Tive sorte que estavam lá umas pedras que me ampararam a queda e pude prosseguir sem demoras. A vontade era muita mas o corpo ainda moído do dia anterior teimava em convencer-me do contrário. Cheguei de facto à conclusão que uma bike de alumínio com suspensão de 80 é capaz de não ser o ideal para uma coisa destas, mas enquanto vou esperando pela nova tem mesmo que ser assim. Mas a coisa ainda ia piorar.
Até Bogas do Meio, o local do reforço, a coisa foi-se fazendo a bom ritmo, não fosse o Nuno a gerir a vantagem. Mais uma vez a simpatia contagiante das pessoas da organização fazia-nos ficar de sorriso na cara. Daí para a frente esperava-nos o melhor. Uma calçada de xisto deixou-me as costas e o que sobrava dos ombros em papa. O Nuno continuava a gerir a vantagem e desconfio que para gozar comigo, ia assobiando enquanto eu mal conseguia respirar. A subida que se seguia era duplamente feia. Feia pela inclinação que tinha e feia outra vez pelo piso que apresentava fruto da passagem das máquinas florestais. A chegada lá acima foi penosa. Apeteceu-me várias vezes atirar a bike para o fundo do barroco e ficar por ali. Não me recordo de metade da subida, o cansaço apagou-a da minha mente, ou então era o estado de alucinação em que seguia. Foi de olhos na roda na frente que cheguei lá acima.
O Nuno conversava com o elemento que a organização tinha colocado lá em cima para massacrar o pessoal, como se a subida só por si não fosse suficiente. -Falta pouco mais de 10 quilómetros, daqui a 1 hora e meia a duas horas estão lá.-
Sendo que seria quase sempre a descer, algo ali não batia certo, ou então era o meu cérebro a pregar partidas. Ainda tirámos uma foto lá em cima onde aproveitei para fazer cara de gajo cheio de força.
Arranquei primeiro que o Nuno. Seria a única forma de seguir à sua frente. A descida até à aldeia do Açor foi rápida e serviu para descansar as pernas e massacrar mais um bocadinho os ombros. Lá em baixo seguimos por uma estrada de alcatrão quando ouvimos do outro lado do vale o pessoal local a gritar a dizer que não era por ali. Nesta altura já não se acha grande piada aos enganos. Já no caminho certo voltámos a ouvir as mesmas pessoas a dizer o mesmo, deviam estar ali desde manhã a fazer serviço público. Daí até ao fim o Nuno continuou a assobiar (este gajo é mau) e eu só para não ir calado ia acompanhando a música com uma letra feita à base de impropérios, mas que me pareceram bastante adequados à situação.
A chegada teria sido feita de sorriso nos lábios, se tivesse havido força para isso.
Depois de 5 minutos a descansar encostado a qualquer coisa que não me recordo em jeito de sem abrigo coitadinho, lá me levantei e fui lavar a bike com o Nuno antes do banho e da bucha.
Ainda havia que tratar do regresso a Abrantes, para nós e para as bikes. Depois de longa conversa com o seguro (como é sabido são agentes facilitadores de situações complicadas) decidiu-se por um regresso de táxi sendo que as bikes seguiriam com o Leonel e a Paula até Abrantes.
                                       foto: Carla Dias
                                                    foto: Agnelo Quelhas
                                           foto: Nuno Gomes
A viagem de regresso.
Pois, isso foi outra aventura. Regressámos de VW transporter, de um ano mais antigo que as nossas idades somadas. O taxista, pessoa deveras simpática, tinha a capacidade de conduzir só com uma mão e ainda era capaz de afinfar valentes guinadas quando o carro fugia para a linha de segurança. A outra era necessária para fazer gestos que acompanhavam a conversa. O conta-quilómetros não funcionava e estava parado nos 300 e tal mil. A partir de determinada velocidade começava tudo a tremer, parecia que estávamos a entrar no hiperespaço. Não fosse o facto de ir cheio de medo e talvez tivesse adormecido com tal balanço. Ainda assim nas palavras do proprietário, a carrinha estava em óptima forma e só comia um bocadinho de óleo. O Nuno ainda ofereceu 2000 euros mas a proposta foi declinada. Ainda disse ao Nuno para perder a cabeça e oferecer 2050 euros mas a resposta foi a mesma. Ainda assim acho que o Nuno ofereceu 1900 euros a mais.
O geo-tour foi duro mas nunca senti a minha integridade física em risco (não que o Nuno não tivesse tentado), já do regresso de táxi, não posso dizer o mesmo.
Foi com o coração pequenino mas com um grande sorriso que parámos à porta do Nuno. E como o mundo é pequenino, ainda descobrimos que o pantufinhas que nos rebocou o carro era filho do shô Jaquim, o taxista que nos levou e que acumulava o transporte de pessoas com o de viaturas.
                                   
                                       foto: Agnelo Quelhas
                                                foto: Agnelo Quelhas
                                       foto: Agnelo Quelhas
                                                    foto: Carla Dias
Epílogo
Tudo está bem quando acaba bem. Foi um fim-de-semana memorável, o BTT Gardunha está de parabéns pelo evento que organizou, pela humildade demonstrada e pela vontade que querer agradar no que faz. O percurso tem tanto de duro como de belo, principalmente o segundo dia. Na minha opinião uma organização irrepreensível apesar de toda a logística envolvida e tudo isto apenas por 35 euros. Talvez por tudo isso as inscrições tenham esgotado tão depressa. Para 2015 estarei lá novamente, de certeza. Quanto às mulheres nuas, de facto não houve, talvez o único ponto a rever pela organização.

Quanto ao meu parceiro, tenho que repensar a escolha para o ano que vem, mas como o Nuno é um amigo dos bons, provavelmente vou optar pelo mesmo critério e esquecer o que me fez passar este ano. Além do mais é maior do que eu e não convém dizer mal.
Acabou por ser o colocar em dia um geo-raid que por outros motivos obrigaram o Nuno a participar sozinho numa dupla de um.
Outras aventuras se seguirão certamente se não falecer entretanto. Acho que manter-me afastado do Nuno pode ajudar.
Nos 5 empenos a jogar em casa vou guardar uma ou duas surpresas para o Nuno, o Carlos e o Ricardo Estrela (pois, não me esqueci da promessa da subidita extra).


Até lá.
                                      foto: Nuno Gomes
                                                                        foto: Carla Dias

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Circuito NGPS - Primeira etapa Lousã.

Após algum tempo de interregno, a melhor forma de regressar a este espaço é com a participação no circuito NGPS.
Gosto muito do conceito e da simplicidade do circuito. Acho sinceramente que o futuro do btt passa por aí, sem fitas, sem lixo.
Resumidamente, o circuito NGPS é um conjunto de 10 provas organizadas por vários grupos/ clubes de baixo custo para os participantes. Faz-se apenas uma inscrição para todo o circuito, e só se pagam as provas em que se quer participar. A cada participante é fornecida uma caderneta com o logótipo dos diferentes clubes organizadores e o respectivo autocolante por cada prova, ao estilo de caderneta de cromos. O objectivo será o de completar a caderneta toda.
Também gosto muito do cariz não competitivo. O facto de não haver tiro de partida é deveras interessante. Cada um (dentro do tempo em que o secretariado está aberto) vai levantando o seu dorsal, prepara as suas coisinhas e parte serra acima. O importante aqui não é o início nem o final, mas sim o durante, a viagem e todo o prazer que se retira dela. Além do mais evita-se o desagradável congestionamento inicial. O ideal será não se fazer isto sozinho, mas na companhia de pelo menos um amigo, apesar de quase nunca se andar sozinho na serra quando se verifica a participação de quase 800 pessoas.


Acordei ainda primeiro que o sol, e fui arrumando as coisas enquanto esperava pelo Nuno que vinha de Abrantes. Depois de carregada a bike, seguimos para a Lousã.
Juntámo-nos à agitação local, enquanto levantávamos os dorsais e nos preparávamos para a partida. Ainda encontrámos o Domingos que já estava pronto para partir.


O início deu-se no princípio, curiosamente, e esperavam-nos 90 quilómetros, isto se não houvesse nenhum engano, o que seria quase impossível, a maior parte das vezes culpa da paisagem ou da conversa.


Começamos a subida inicial (6 quilómetros dela) a bom ritmo onde aproveitámos para fazer o aquecimento. Como é sabido, o aquecimento a sério, faz-se serra acima e não em rolos.
Os primeiros 56 quilómetros seriam a subir e os restantes a descer. A primeira aldeia de xisto que nos esperava era Gondramaz, onde comemos umas tostas e provámos o mel da serra da Lousã. Até aí tínhamos seguido com os 3 cagaréus (o Rui, o Pedro e o Leonel) em representação da maior equipa do país e talvez até de Aveiro.


Continuámos a subir em direcção às eólicas e depois disso de encontro à aletria que estava bem boa, apesar do Nuno pedir arroz doce, só para contrariar.


Começava aí a parte mais técnica, mas também mais divertida, com uns singles por entre os pinheiros que nos levariam até ao Chiqueiro. Fomos entretanto brindados com umas espectaculares quedas por essa altura, felizmente sem consequências para ninguém (o trilho do javali a fazer as suas vítimas). O Nuno, agora de 29, desce como se não fosse nada com ele e afinal até chegou à conclusão de que também gosta de descer.


Depois disso tudo, uma valente subida em alcatrão que nos levaria de volta à aletria e depois ao Talasnal, outra das lindíssimas aldeias de xisto.


Para variar continuámos a subir até ao ponto mais alto do percurso em Santo António das Neves. Claro que por essa altura já tínhamos feito mais um par de quilómetros porque o gps ia lá só para enfeitar.
Aproveitámos também para almoçar com vista para o Coentral, onde também tinha passado o geo-raid.



Chegados lá acima foi tempo de paragem nos poços da neve antes de iniciarmos a descida que nos levaria a passar em Aigra Velha e depois em Aigra Nova. Tempo para mais uma paragem para um café e um talasnico (doce típico do Talasnal à base de mel e castanha). O caminho continuava a fazer-se para baixo e foi assim que chegámos aos últimos quilómetros antes da Lousã. 



O melhor estava para vir. A organização tinha guardado o melhor para o fim. Quase 10 quilómetros de lama, mas não era uma lama normal, era uma lama filha da puta que se colava a tudo e entrava em todo o lado onde impossibilitava quase a tarefa de pedalar. O Nuno que tinha vindo a puxar quase todo o caminho veio desta feita atrás de mim. A irritação provocada por tal piso levou-me a pedalar quase cheio de força num misto de pedalar com chamar nomes a tudo à minha volta. Deu para esticar as pernas, bem como o vocabulário mais prosaico.
Foi entre casas e caralhadas (só eu, que o Nuno é um moço bem educadinho, além do mais precisava da boca para respirar) que chegámos à Lousã onde um camião dos bombeiros nos esperava para a lavagem das bikes e dos sapatos (ainda estive na dúvida se os lavava ou os deitava fora, tal o estado).



Seguimos depois para o carro e depois de arrumarmos as bikes ainda fomos dar uma corridinha para relaxar as pernas. No total foram 94 quilómetros (com os enganos) com 2500 metros de acumulado positivo, mais dois ou três a correr, antes do banho e do jantar que consistiu em muitas coisas, daquelas boas para repor o que se perdeu e acrescentar ainda mais qualquer coisa.



Ao meu parceiro um obrigado pelas fotos, por me puxar e me aturar durante este dia. A próxima é em Águeda para o circuito up and down com a Monitar. A próxima do circuito ngps será na Freita para “apenas” 75 quilómetros, mas com os mesmos 2500 metros de acumulado (deve ser número obrigatório), mas antes disso ainda temos o geo tour, dois dias na serra da Gardunha para mais uns quilómetros de viagem pelo que de melhor tem a vida.