sábado, 10 de abril de 2010

Não há fome que não dê em fartura…

Após os 5 empenos, com a Quinta-feira livre e com bom tempo, pedalar era uma certeza. Ainda mais havia a desculpa para uma volta grande e dura. O Nuno e o Filipe em plena preparação para o Geo-raid fizeram a proposta, a qual aceitei sem pensar duas vezes. A escolha do percurso também foi fácil, uma vez que andava há já muito tempo para experimentar um percurso pela zona de Proença-a-Nova da autoria do Fernando Carmo. O Nuno concordou e pelas 10 horas lá nos encontrávamos em Proença prontinhos começar.

Os primeiros quilómetros foram feitos em alcatrão o que serviu como aquecimento, mas rapidamente entrámos na terra. Assim fomos passando por Estevês, e Vale da Mua enquanto seguíamos em direcção ao Sobral Fernando. Começámos aí uma descida bem rápida que nos levou até um ribeiro de água tão cristalina como fria. Andar todo o dia com os pés molhados não era opção. Assim tivemos que passar algo parecido com uma ponte, e andar com a bike às costas pelo meio da vegetação. Tivemos uns encontros ocasionais com umas silvas e com umas formigas esfomeadas, mas nada que nos impedisse de seguir. Por aqui ainda se tratam as oliveiras, cultura propícia a uma zona tão acidentada, que se encontram em socalcos seguros por muros de xisto, que ajudam a segurar o solo, bem como na apanha da azeitona. Por aqui o produto desta cultura, vulgo, azeite ainda é de elevada qualidade.

Como nos encontrávamos cá em baixo, havia que subir. A paragem seguinte foi para uma breve conversa com o Sr. José que andava aos tartulhos. Ansião simpático que nos mostrou o produto da sua colheita e que nos contou em três tempos a história da sua vida. Foi trabalhar para a capital com apenas 8 anos, depois fez a tropa e acabou como condutor da carris. Agora já reformado voltou à terra onde aproveita certamente a bem merecida reforma.

À nossa frente ficava Sobral Fernando bem no sopé da Serra das Talhadas. Esta aldeia aninhada entre a serra e o rio Ocreza é uma visão soberba e mais parece uma tela onde o gigantesco maciço granítico contrasta com a fragilidade da aldeia uns metros abaixo.

Uns quilómetros à frente, parámos sob o rio Ocreza que divide o concelho de Proença-a-Nova do de Vila Velha de Rodão, zona de transição entre a Beira e o Alentejo. O que se vê nesse local é de uma beleza invulgar. A imponente serra das Talhadas ergue-se majestosa. O rio Ocreza surge no vale (encaixado entre as encostas onde se encontram ambas as povoações) onde galga o açude construído há já uns anos. Neste local observa-se também a presença de uma fauna diversificada como uma colónia de Grifos, a Cegonha Preta, o Bufo-Real, a Garça-Real e a Águia Cobreira. É frequente encontrar-se também lontras a nadar nas águas do rio, mas desta vez não vimos nenhuma.

Desviámo-nos um pouco mais do track original com o objectivo de ver as Portas do Almourão que são dois picos quartzíticos escarpados na rocha, um de cada lado do rio Ocreza que demonstram a força da água ao longo dos anos.
Ainda nos entrámos na pr3 de VVR com o objectivo de lá chegar, mas aquele caminho era mesmo para pedestrianismo, só era possível seguir com a bike às costas e como ainda havia uns quantos quilómetros para fazer, resolvemos abortar a pr e retomar o nosso caminho original. As Portas do Almourão terão que ficar para uma próxima oportunidade, mas certamente que lá irei.

Continuámos então em direcção ao Alvito da Beira que distava de nós um bom par de quilómetros. A meio caminho, o Nuno ainda tentou arranjar-nos um almoço, mas não foi bem sucedido, a única coisa que nos ofereceram foi água e lá nos foram dizendo que o sol no Inverno nem chega ao Alvito e para de lá sair, só em primeira e devagarinho.
Acabámos por almoçar por lá no único café existente (ao que parece) onde comemos uma sandes de pão de ontem, mas para compensar, o presunto era da grossura de um bife. Lá seguimos o nosso caminho. De facto a saída do Alvito não é fácil e consiste nuns quantos quilómetros sempre a subir, mas acabou por não ser em primeira e assim tão devagarinho.

Ainda tivemos que fazer um pequeno desvio motivado por umas obras que cortaram o caminho original para que pudesse passar uma estrada. É o preço a pagar pelo progresso. Um pouco adiante fomos brindados com uma vista magnífica da aldeia de Cunqueiros. É uma aldeia muito bonita quase toda em xisto, onde contrasta o branco, o verde e o castanho.

Já nos íamos aproximando do fim, mas ainda faltava a passagem pela aldeia de Figueira (esta sim de xisto) que ficava logo após a Sobreira formosa. A partir daí e até Proença seguiu-se sempre a bom ritmo, até porque as maiores dificuldades do dia, já tinham ficado para trás.

Ao chegarmos ao fim, ainda tivemos tempo de aconchegar o bucho com um folar (nada mais apropriado à época) antes de regressarmos a casa.
O objectivo foi cumprido, uma vez que o treino para o Geo-raid foi muito bom e ainda conhecemos alguns lugares novos que nos ficarão na memória. Que grande dia de btt.