sábado, 1 de setembro de 2012

O coração da Gardunha


Após tanto tempo parado, mandava o bom-senso que a primeira saída fosse coisa relativamente fácil de modo a evitar o anunciado empeno. E como o bom-senso mandava que assim fosse, fiz precisamente o contrário. Liguei ao António de forma a passar da melhor forma o último dia de férias e ele que nunca recusa um desafio nem nunca deixa ninguém para trás, aceitou guiar-me neste dia. Após alguma indecisão decidimo-nos pela Gardunha, que apesar de relativamente perto, nunca por lá tinha pedalado. Pelas sete e trinta encontrei-me com o António em Castelo Branco, e segui com ele em direcção à Soalheira, de onde saímos.


Depois de tudo pronto e do cafezinho habitual, lançamo-nos à Gardunha. Os primeiros quilómetros foram rolantes com passagem em São Fiel antes de começarmos a subir. O António lá foi avisando que apesar da pouca quilometragem andaríamos pelo coração da Gardunha o que nos garantia “bonitas subidas”. Lá fomos subindo até ao Casal da Serra passando pelo Alto da Cruz. E aqui como diz o António “voltámos a subir”, o que é sempre bom, depois de uma subida… outra subida. Chegados lá acima, tínhamos mesmo que descer e assim foi até ao Souto da Casa e depois até ao Casal de Álvaro Pires onde nos esperava uma calçada. Pois é, já cá faltava, seja qual for o local, se por lá houver uma calçada, o António vai dar com ela. Vim a saber mais tarde que o faz apenas com o objectivo de “agitar o óleo das suspensões”.


Daí até às antenas foi sempre a subir, ao que parece durante nove quilómetros, com algumas pendentes de 20%, portanto, precisamente aquilo aconselhado pelo bom-senso. Mas para ser sincero, nem custou assim tanto, não que a dificuldade não estivesse lá, mas a companhia do António, excelente conversador e contador de histórias, deixava isso para segundo plano. Pelo caminho passámos ainda por Ausência, não sei bem se será um local, porque a distância que separava as duas placas (a de início e a de fim) seria para aí de dez metros. Como disse o António, Ausência, só de descidas. Ainda houve algumas partes para fazer à mão, uma vez que o mau estado do terreno obrigava a que assim fosse, nem o Sargento Domingos subia aquelas. Regueiras enormes de onde só se saía de escada e um areão muito seco e escorregadio. Também era durinho, tive oportunidade de comprovar isso mesmo, felizmente a subir, mais vergonhoso, mas melhor para a integridade física.
A chegada lá acima fez-se de sorriso nos lábios. A paisagem típica de serra, rocha e mato rasteiro enche a vista e a alma de qualquer um. Estávamos a 1215 m.

A partir desse ponto foi quase sempre a descer até à aldeia histórica de Castelo Novo onde tem precisamente início a GR22. A entrada na aldeia como não podia deixar de ser foi feita por uma calçada romana. Depois de saciada a sede com a refrescante água da serra chegou a altura de fornir o bucho com qualquer coisa sólida. Como o dia estava quase ganho, faltavam apenas seis ou sete quilómetros para o final, por ali nos mantivemos bastante tempo à conversa.

O final, tal como o início foi rolante e levou-nos de regresso à Soalheira de onde saímos em direcção a casa depois de tudo arrumado e de uma fresquinha em jeito de despedida.
Um obrigado ao António, excelente companheiro de pedal e de conversa. Nem durante as subidas a conversa se cala, e isso torna a coisa mais fácil, muito mais fácil.