Assim decidi ir conhecer uma das alternativas oferecidas pelo Centro de btt (o único do pais) em Ferraria de São João. De entre os vários percursos disponibilizados, escolhi não o maior (75 km) mas aquele considerado o mais difícil (mas também mais curto – 50km), não só pelo acumulado ascendente de 2235 m, mas também pela inclinação de algumas rampas a rondar os 30%.
Percurso mais exigente, especialmente pelos fortes declives e total de subida acumulada. Após a cumeada da Serra da Lousã, em altitudes entre os 800m e 900m, desce vertiginosamente para a aldeia de Alge e atravessa Campelo, aldeia onde existe um restaurante no viveiro de trutas. A partir daqui o percurso sobe, exigente, até entroncar no percurso 3. Prepare-se para declives até 30% !
Já saí de casa tarde (resultado destes dias de festa e de ponte), mas em menos de meia hora cheguei a Ferraria. Os últimos preparativos foram feitos com muita calma e alguma preguiça à mistura.
Comecei a pedalar pelas 11 horas. Já não era cedo, mas ainda ia muito a tempo dos 50 quilómetros que me esperavam.
Comecei logo bem e iniciei o percurso ao contrário. De facto logo relativamente cedo, achei estranho uma subida demasiado técnica (ao jeito de percurso pedestre com muita pedra e areia) e completamente impossível de fazer em cima da bike –ainda se fosse a descer- pensava eu, -esta é mesmo ao jeito do CEVA.
Mas pronto, nada de grave. Infelizmente depois apanhei durante uns bons 6 quilómetros o tipo de terreno que mais detesto, eucaliptos com o caminho completamente sujo, cheio de restos de ramos e folhagem.
Lá segui com algum cuidado, para que o desvidor não me estragasse o dia.
Pouco depois surge a primeira das muitas aldeia perdidas na serra. Um misto de casas habitadas com abandonadas, onde a natureza ainda é rainha. Após a primeira dificuldade do dia (uma subida com relva e lama) encontro um serra da estrela zangado, mesmo a bloquear o caminho por onde deveria seguir. De pessoas, nem sinal, apenas umas ovelhas pastavam por ali. Felizmente conforme fui avançando lentamente ele foi-se desviando ao mesmo ritmo mas sempre a ladrar. Assim como assim estava prontinho para saltar da bike a qualquer momento.
Uns quilómetros à frente, encontro um grupo bastante grande (esses sim a fazer a coisa no sentido certo) e ouço a frase –olha, um cagaréu por aqui? Lá expliquei ao rapaz o porquê desse acontecimento. Trocámos umas palavras e descobrimos que os nomes já não eram estranhos, por culpa do fórum btt. Ficou um abraço ao Ti Hernâni e votos de rápido regresso.
A partir daí, veio a melhor parte do percurso, mais aldeias perdidas e uma vegetação com uma coloração muito própria da época. A serra nesta altura tem uma beleza especial. A juntar a isto, água e mais água, corria por tudo o que era sítio, no caminho e fora dele.
Ao chegar a Alge, comecei a grande subida do dia. Sensivelmente 10 quilómetros de subida constante, até às ventoinhas bem lá em cima. A dificuldade da subida foi amenizada pela vista soberba de que dispunha.
Lá em cima iniciei a descida, feita a ritmo ainda mais lento que a subida. Lá estava a merda dos restos dos eucaliptos à minha espera. Escusado será dizer, que a descida foi penosa.
Ao chegar cá abaixo, voltei a subir em direcção a S. João do Deserto. Não é preciso lá chegar (na verdade o track desvia antes) para que se verifique uma desertificação total. Aldeias onde em tempos muita gente terá vivido, encontram-se hoje completamente deixadas ao abandono, o que não deixa de ter a sua beleza.
O sobe e desce constante (mais sobe do que desce) serviu para ir exaurindo a força que ainda ia restando nas pernas.
Faltava ainda “esfolar o rabo”, e este de facto afigurou-se bastante difícil. As rampas finais em pedra solta e completamente destruídas pelas regueiras foram bastante difíceis de transpor. Enquanto ia maldizendo o que me aparecia à frente, lembrei-me que o percurso original seria feito a descer, o que fazia muito mais sentido. Amaldiçoei a distracção ou a parvoíce por ter feito tudo ao contrário.
Finalmente acabei por chegar.
Aproveitei as instalações disponibilizadas para lavar a bike (a troco de alguns aerios) mas para quem tem que meter a bike no carro (principalmente no estadinho em que estava) é uma bênção.
O percurso seria fantástico se não estivesse sujo em tantos quilómetros, o que é pena. Adorei a paisagem, e sem as partes “sujas” seria um percurso perfeito.
De qualquer forma terei que lá voltar para experimentar os outros.
O que via da janela do quarto ao acordar.
Caminho pedestre?