Há alguns dias pensei em fazer a subida do Picoto Raínho. A descida já a fizera várias vezes, sendo que a última foi em Setembro passado com uma dezena de amigos.
O desafio é interessante. O objectivo seria fazer a subida pelo mesmo caminho da descida, o que me levaria dos 200 aos quase 1100 metros de altitude, numa distância de 35 quilómetros.
Depois de lá chegar acima, a descida esperava-me, provavelmente por alcatrão, devido ao adiantado da hora. Logo se veria.
O Picoto Raínho, como o próprio nome indica é o rei dos cumes do concelho da Sertã, apesar de se situar ao lado de Oleiros.
O percurso avança em sentido contrário à ribeira da Sertã (mas sempre paralelo a esta) durante alguns quilómetros. Passo então na Aldeia da Ribeira, Lameiros e Torneiras antes de começas a subir a sério.
É a partir da ponte das Portelinhas que a inclinação se começa a fazer notar.
Continuo a ver a ribeira, os açudes, as garças, as árvores e as margens, agora lá mais em baixo.
À medida que vou subindo, a paisagem parece enquadrar-se num todo perfeitamente homogéneo. Sinto-me pequeno no meio de toda aquela grandiosidade.
Uns quilómetros acima, encontro-me perto do Figueiredo. Faço agora 500 metros em alcatrão que outrora fazia em terra. É o preço da modernização.
Evito a passagem pelo Figueiredo (fujo a mais 3 ou 4 quilómetros em alcatrão) e meto por um caminho florestal, na esperança de reencontrar o caminho que me leva lá acima.
A inclinação é cada vez maior e encontro-me agora perto dos 800 metros.
Paro e pergunto a um agricultor local (que se debate com as ervas daninhas) se vou no caminho certo. Trocamos dois dedos de conversa. Aproveitamos e descansamos os dois.
Mas como o sol está quase a tocar o horizonte não me demoro muito.
As indicações revelaram-se precisas e rapidamente regresso ao caminho correcto. Sempre descobri mais um trilho.
Quase nos 1000 metros encontro a Ti Hermínia que regressa a casa com as suas cabras. Pergunta-me de onde venho e para onde vou. Diz que vou enganado, que mesmo ali ao lado há uma estrada em alcatrão que me leva lá acima. Agradeço a informação e esclareço que é mesmo por ali que quero ir.
Deixo-a com um adeus e até um dia.
O Picoto Raínho está quase conquistado, mas faltam os quilómetros finais. São os mais íngremes, mas a satisfação de mais uma conquista empurra-me por ali acima sem grande dificuldade.
Chegado lá acima olho toda a extensão do parque eólico e aproveito a já ténue luz para tirar a fotografia que guardará o momento.
Olhei a imensidão dos cumes por mais uns instantes e encaixo os cleats nos pedais. O regresso teria de ser mesmo por alcatrão.
E assim foi…
quinta-feira, 17 de abril de 2008
quinta-feira, 10 de abril de 2008
Os 5 empenos
Um pequeno vídeo deste dia.
A pressa é inimiga da perfeição.
O dia queria-se perfeito e como a jornada era longa, o ritmo adoptado foi calmo e descontraído. Os empenos estavam à nossa espera e não iriam a lugar algum.
Partimos então à procura do 1º que nos levaria dos 200 aos quase 600 metros de altitude. A chegada lá acima foi rápida, a força nas pernas abundava bem como a conversa e a boa disposição.
1ª descida do dia, 1º furo, 1ª paragem (das várias que se lhe seguiriam).
O 2º empeno lá estava, uma subida menos longa do que a 1ª, mas mais íngreme e mais difícil. À medida que a inclinação aumentava, diminuía a conversa. Aos poucos lá se foi vencendo a dificuldade e já no topo enchemos os pulmões e a vista.
Seguia-se uma descida bem rápida em direcção ao que alguns chamaram de pelo menos meio empeno.
Paragem em mais uma das diversas fontes que foram aparecendo onde o Girão começou uma guerra com os travões que teimavam em segurá-lo nas subidas, o que não convém nada. Uns refrescaram-se com água, outros com “mines”.
Estávamos na aldeia do Marmeleiro.
Seguimos em direcção à aldeia da Azinheira onde infelizmente pudemos ver um grande número de fitas ainda do Transpinhal deixadas pela EscolaAventura. O dinheiro das inscrições não deve ter sido o suficiente para que fossem retiradas. Só deu para retirar as placas e as lonas de publicidade; porque será?
Também ainda não passou muito tempo, o Transpinhal foi só há 6 meses e como todos sabemos o tempo passa a correr.
Lamento os péssimos exemplos que se dão.
Adiante.
Uns quilómetros depois passámos num espectacular carreiro (muito técnico) sempre ao lado da ribeira da Isna onde a técnica individual foi preciosa.
Pouco depois segundo furo e mais uma paragem. Uns metros à frente, nova paragem (pipo da câmara anterior danificado).
A subida para a Cabeça do Poço fez-se sem incidentes, mas os travões do Girão teimavam em não dar tréguas. Enquanto 3 ou 4 estavam com o Girão, os outros avançaram uns metros até à fonte seguinte. Da porta ao lado surge então o Sr. Abílio para ver o que perturbava a calma habitual daquelas paragens. À pergunta – então o que se passa? Alguém respondeu – estamos a comer qualquer coisa. – Então se é para comer é ali na porta ao lado, a da minha adega. Alguém perguntou se podia ir chamar os outros. A resposta não se fez esperar – até 85 ainda chega.
Num ápice apareceu presunto, pão, queijo, enchidos e para ajudar a engolir, vinho e umas “mines”.
Com a chegada do pelotão foi a loucura. Parece que não comiam nada há 15 dias. Em 3 tempos esmifraram o stock de comida ao Sr. Abílio, o que o deixou de sorriso nos lábios. A genuína simpatia das pessoas por estas bandas é fabulosa. Ainda nos ofereceu uma garrafa de bagaceira velha para depois do jantar. O Rui como agradecimento deixou-lhe as luvas (e que falta lhe fizeram mais tarde) que o Sr. Abílio fez questão de pregar numa viga da adega como recordação.
Entretanto o Hernâni já havia iniciado o 3º empeno e perdeu o melhor da festa.
Com o bucho cheio esperava-se agora o efeito do vinho na ajuda da conquista do Centro Geodésico de Portugal.
O 3º empeno ou “a besta” é de longe o mais difícil porque é bastante longo, muito íngreme e muito técnico (com muita pedra solta que a juntar à inclinação, dificulta a progressão e de que maneira). Proporcional à dureza da subida, só a beleza do horizonte que pôde ser, devidamente contemplado já no topo.
São serras e serras a perder de vista rasgadas por carreiros que parecem levar-nos a todo o lado.
No topo, aguardava-nos o reforço no museu da geodesia.
Descansadas as pernas, retemperado o estômago e assinado o livro de presenças fizemo-nos ao caminho porque ainda havia que voltar à Sertã.
Logo na descida seguinte o Rui caiu e deu cabo das mãos (as luvas haviam ficado na Cabeça do Poço) e ficou um bocado dorido. O Luís Filipe (um amigo que foi ter connosco lá acima) trouxe o Rui até ao Centro de Saúde da Sertã. Lá seguimos em direcção à Fundada.
Mais um furo para a conta, já na descida para a ponte das Charcas, descida essa bem rápida com uma paisagem de encher o olho com a ribeira bem lá ao fundo.
Aproximávamo-nos do último empeno, o mais curto mas o mais íngreme. Um bom desafio para as pernas (com o acumular dos quilómetros teimavam em não ajudar) e para a técnica (a roda da frente não queria parar no chão). Passado este muro continuámos a subir durante mais uns quilómetros até à aldeia de Palhais. O por do sol acompanhou-nos nesta parte final – que regalo para a vista e para a alma.
Na última descida e consequente subida do dia, ainda deu para um saudável picanço com um jovem e o seu tractor que não gostou muito de se ver ultrapassado por tantas rodas.
O breu da noite recebeu-nos à chegada e após os banhos fomos jantar.
O Girão aproveitou para explicar a todos a situação do Samuel. Conseguimos 225 € e uma lindíssima bike oferecida pelo Jerónimo, que nos presenteou ainda com um momento de poesia ao contar-nos a história da Árvore Generosa, bem a propósito do espírito inerente a este passeio.
O fim do dia chegou depressa.
Foi um dia muito bem passado, com alguma dureza mas a beleza das paisagens que fomos encontrando obrigou a um ritmo descontraído.
Que bom é o btt assim. Com tantos amigos presentes não poderia ser de outra forma.
As saudades que deixou, essas vão-se matando por aí nos trilhos e para o ano na segunda edição dos 5 empenos.
Assim o espero.
Um agradecimento especial às meninas que nos acompanharam ao longo do dia (são umas queridas), ao Luís Filipe, à Câmara Municipal da Sertã pela oferta do seguro de acidentes pessoais, à Câmara Municipal de Vila de Rei pelo reforço oferecido, ao Sertanense pela cedência de um local para os banhos (de água quente), ao restaurante Ponte Velha pela habitual simpatia com que serviu estes cheios de fome e ao Sr. Abílio da Cabeça do Poço que nos abriu a porta de casa e nos deu o melhor que tinha. E que bem que soube.
Até à próxima.
A pressa é inimiga da perfeição.
O dia queria-se perfeito e como a jornada era longa, o ritmo adoptado foi calmo e descontraído. Os empenos estavam à nossa espera e não iriam a lugar algum.
Partimos então à procura do 1º que nos levaria dos 200 aos quase 600 metros de altitude. A chegada lá acima foi rápida, a força nas pernas abundava bem como a conversa e a boa disposição.
1ª descida do dia, 1º furo, 1ª paragem (das várias que se lhe seguiriam).
O 2º empeno lá estava, uma subida menos longa do que a 1ª, mas mais íngreme e mais difícil. À medida que a inclinação aumentava, diminuía a conversa. Aos poucos lá se foi vencendo a dificuldade e já no topo enchemos os pulmões e a vista.
Seguia-se uma descida bem rápida em direcção ao que alguns chamaram de pelo menos meio empeno.
Paragem em mais uma das diversas fontes que foram aparecendo onde o Girão começou uma guerra com os travões que teimavam em segurá-lo nas subidas, o que não convém nada. Uns refrescaram-se com água, outros com “mines”.
Estávamos na aldeia do Marmeleiro.
Seguimos em direcção à aldeia da Azinheira onde infelizmente pudemos ver um grande número de fitas ainda do Transpinhal deixadas pela EscolaAventura. O dinheiro das inscrições não deve ter sido o suficiente para que fossem retiradas. Só deu para retirar as placas e as lonas de publicidade; porque será?
Também ainda não passou muito tempo, o Transpinhal foi só há 6 meses e como todos sabemos o tempo passa a correr.
Lamento os péssimos exemplos que se dão.
Adiante.
Uns quilómetros depois passámos num espectacular carreiro (muito técnico) sempre ao lado da ribeira da Isna onde a técnica individual foi preciosa.
Pouco depois segundo furo e mais uma paragem. Uns metros à frente, nova paragem (pipo da câmara anterior danificado).
A subida para a Cabeça do Poço fez-se sem incidentes, mas os travões do Girão teimavam em não dar tréguas. Enquanto 3 ou 4 estavam com o Girão, os outros avançaram uns metros até à fonte seguinte. Da porta ao lado surge então o Sr. Abílio para ver o que perturbava a calma habitual daquelas paragens. À pergunta – então o que se passa? Alguém respondeu – estamos a comer qualquer coisa. – Então se é para comer é ali na porta ao lado, a da minha adega. Alguém perguntou se podia ir chamar os outros. A resposta não se fez esperar – até 85 ainda chega.
Num ápice apareceu presunto, pão, queijo, enchidos e para ajudar a engolir, vinho e umas “mines”.
Com a chegada do pelotão foi a loucura. Parece que não comiam nada há 15 dias. Em 3 tempos esmifraram o stock de comida ao Sr. Abílio, o que o deixou de sorriso nos lábios. A genuína simpatia das pessoas por estas bandas é fabulosa. Ainda nos ofereceu uma garrafa de bagaceira velha para depois do jantar. O Rui como agradecimento deixou-lhe as luvas (e que falta lhe fizeram mais tarde) que o Sr. Abílio fez questão de pregar numa viga da adega como recordação.
Entretanto o Hernâni já havia iniciado o 3º empeno e perdeu o melhor da festa.
Com o bucho cheio esperava-se agora o efeito do vinho na ajuda da conquista do Centro Geodésico de Portugal.
O 3º empeno ou “a besta” é de longe o mais difícil porque é bastante longo, muito íngreme e muito técnico (com muita pedra solta que a juntar à inclinação, dificulta a progressão e de que maneira). Proporcional à dureza da subida, só a beleza do horizonte que pôde ser, devidamente contemplado já no topo.
São serras e serras a perder de vista rasgadas por carreiros que parecem levar-nos a todo o lado.
No topo, aguardava-nos o reforço no museu da geodesia.
Descansadas as pernas, retemperado o estômago e assinado o livro de presenças fizemo-nos ao caminho porque ainda havia que voltar à Sertã.
Logo na descida seguinte o Rui caiu e deu cabo das mãos (as luvas haviam ficado na Cabeça do Poço) e ficou um bocado dorido. O Luís Filipe (um amigo que foi ter connosco lá acima) trouxe o Rui até ao Centro de Saúde da Sertã. Lá seguimos em direcção à Fundada.
Mais um furo para a conta, já na descida para a ponte das Charcas, descida essa bem rápida com uma paisagem de encher o olho com a ribeira bem lá ao fundo.
Aproximávamo-nos do último empeno, o mais curto mas o mais íngreme. Um bom desafio para as pernas (com o acumular dos quilómetros teimavam em não ajudar) e para a técnica (a roda da frente não queria parar no chão). Passado este muro continuámos a subir durante mais uns quilómetros até à aldeia de Palhais. O por do sol acompanhou-nos nesta parte final – que regalo para a vista e para a alma.
Na última descida e consequente subida do dia, ainda deu para um saudável picanço com um jovem e o seu tractor que não gostou muito de se ver ultrapassado por tantas rodas.
O breu da noite recebeu-nos à chegada e após os banhos fomos jantar.
O Girão aproveitou para explicar a todos a situação do Samuel. Conseguimos 225 € e uma lindíssima bike oferecida pelo Jerónimo, que nos presenteou ainda com um momento de poesia ao contar-nos a história da Árvore Generosa, bem a propósito do espírito inerente a este passeio.
O fim do dia chegou depressa.
Foi um dia muito bem passado, com alguma dureza mas a beleza das paisagens que fomos encontrando obrigou a um ritmo descontraído.
Que bom é o btt assim. Com tantos amigos presentes não poderia ser de outra forma.
As saudades que deixou, essas vão-se matando por aí nos trilhos e para o ano na segunda edição dos 5 empenos.
Assim o espero.
Um agradecimento especial às meninas que nos acompanharam ao longo do dia (são umas queridas), ao Luís Filipe, à Câmara Municipal da Sertã pela oferta do seguro de acidentes pessoais, à Câmara Municipal de Vila de Rei pelo reforço oferecido, ao Sertanense pela cedência de um local para os banhos (de água quente), ao restaurante Ponte Velha pela habitual simpatia com que serviu estes cheios de fome e ao Sr. Abílio da Cabeça do Poço que nos abriu a porta de casa e nos deu o melhor que tinha. E que bem que soube.
Até à próxima.
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