segunda-feira, 21 de julho de 2008

2º Capítulo

Desta feita o 2º capítulo foi mesmo adiante. De Leiria vieram o Alex e o Bruno (amigos de longa data) que me acompanharam nesta jornada.
O percurso seria composto pela junção de 2 tracks. O primeiro cedido pelo Gonçalo Pinto (de ida e volta de Pedrógão Pequeno ao alto do Trevim em plena serra da Lousã) ao qual adicionei um meu, também de ida e volta entre a Sertã e Pedrógão Pequeno.

100. Os quilómetros que no mínimo iríamos fazer (que isto do corte e costura não é propriamente exacto), tal como o acumulado, mas uma subida até aos 1200 metros estava garantida.
39. Os graus que nos aguardavam neste quente dia de Verão. Com estes números, havia que planear muito bem o que o que seria necessário levar, principalmente no que respeita a líquidos. Apesar de não conhecer a maior parte do percurso havia-o estudado bastante bem no google earth onde marquei os possíveis pontos de água. Não sabia se na subida ao Trevim (já em plena serra) encontraria alguma fonte, mas também não poderia contar com isso (e ainda bem que o fiz porque de facto não vi nenhuma). Teríamos então que contar com a última localidade de seu nome Derreadas Cimeiras (iríamos tentar não dar razão ao nome de terra) para o derradeiro abastecimento líquido antes de começarmos a subir a sério. O próximo local com água situava-se geograficamente paralelo, mas do outro lado, o da descida e separado por 25 quilómetros (12 para cima, 12 para baixo).

Tínhamos previsto a saída pelas 8.30, mas acabamos por sair uma hora mais tarde. Após cruzarmos a ribeira grande, subimos até ao cimo da vila que deixaríamos para trás, bem como o alcatrão.
Nos primeiros quilómetros fomos acompanhados por pinheiros e eucaliptos (que nos iam escondendo do sol) onde os típicos caminhos florestais alternavam com divertidos carreiros. Um desses carreiros agora quase fechado por mato e tojos cerradíssimos providenciou-nos uma sessão de “depelação” tal a quantidade de pele que por lá deixámos na nossa passagem.





Uns quilómetros à frente chegámos à localidade do Viseu onde conseguimos literalmente secar a fonte local.

Daí até Pedrógão Pequeno cruzámos algumas hortas sempre acompanhados pelo sobe e desce habitual. As paragens ocasionais que se faziam eram apenas para uma ou duas fotografias.
Na chegada a Pedrógão Pequeno fizemos o segundo abastecimento líquido e o primeiro sólido.
Iniciamos depois a magnífica descida empedrada para a ponte Filipina onde alguém procedia à recolha da cortiça nos abundantes sobreiros existentes.



Aproveitámos para tirar mais umas fotos (impossível não o fazer devido à beleza do local) e para arranjar forças para a íngreme subida que nos esperava até Pedrógão Grande. Aí chegados fizemos uma paragem no bonito jardim municipal onde fugimos ao sol e almoçámos qualquer coisa.












A partir daí os olhos teriam que estar postos a meias no gps e no caminho. A certa altura o caminho outrora existente, havia sido cortado para dar lugar à passagem de uma estrada. O que encontrámos foi então um enorme buraco que se precipitava no vazio. Nada de muito grave, apenas tivemos que o contornar uns metros abaixo e voltar a apanhar o track uns metros mais à frente.

Aproximávamo-nos rapidamente das Derreadas Cimeiras, onde felizmente conseguimos não chegar muito derreados (também não convinha nada, a subida a sério ia começar ali). Depois dos bidões e dos camel bem cheios e junto da última casa da localidade, vimos três miúdos que brincavam num terraço. Vendo-nos aproximar, perguntaram de onde éramos e se íamos subir a serra. À nossa resposta afirmativa esgaram um sorriso, o qual compreendemos logo que olhámos para a picada que nos apareceu ao virar da esquina. Inclinadíssima, mas se o caminho era por ali, era por ali te teríamos que seguir.


Já mais no alto avistámos muito ao longe as ventoinhas que habitam o alto do Trevim. Esperava-nos um constante sobe e desce (mais sobe como é obvio) até lá acima. Tivemos ainda direito a um bónus; as máquinas de limpeza florestal, haviam passado por ali há muito pouco tempo, o que à subida, juntou-se ainda um pó muito fino e abundante, bem como um tremer constante originado pelos sulcos feitos pelas lagartas das mesmas. Foram assim os oito quilómetros finais até lá acima.








Na descida, deu-se o golpe de teatro do dia. Enquanto tirava uma fotografia, o Alex e o Bruno lançaram-se por ali a baixo (por culpa minha confesso) tomando a direcção precisamente oposta à qual teríamos que seguir. Ainda assobiei, mas qual quê, não ouviram nada. Guardei a máquina e iniciei uma perseguição na tentativa de minorar o prejuízo. Imagino a minha figura, aos berros serra abaixo na esperança que eles me ouvissem. Nada feito. Passámos dos 1200 metros para os 800 em menos de nada. Quando cheguei ao pé deles e lhes dei a boa nova de que teríamos de voltar a subir tudo de novo, pareceu-me vislumbrar uma lágrima nos olhos de ambos.
À nossa frente estava uma placa que apontava a direcção de Góis!!!!!!!???????


Optámos por seguir um caminho alternativo, na esperança de reencontrarmos o caminho que havíamos perdido no topo da serra.
Parámos entretanto num tanque de apoio ao combate dos fogos florestais onde nos refrescámos. Afinal nem tudo corria mal (por enquanto).
Continuámos agora com os olhos postos mais no gps do que na bonita paisagem.
Uns quilómetros à frente conseguimos finalmente reencontrar o caminho certo, mas os quilómetros extra fizeram com que a água acabasse antes do que estava previsto.
À pergunta do Bruno -ainda falta muito, eu respondia –estamos quase, ao que ele dizia –já estávamos quase há bocado…



Lá fomos seguindo até à Mega Fundeira onde pedimos água na primeira casa que encontrámos. Uma dádiva.
Daí até Pedrógão faltavam ainda 18 quilómetros, que seriam feitos num estradão sempre paralelo ao rio com algumas subidas e descidas, percurso esse já por mim conhecido.
Fugimos então um bocadinho ao track original, que seguia inicialmente por alcatrão e que mais tarde viria a apanhar o “nosso” trajecto.


A próxima paragem foi para uma fotografia no miradouro da Senhora da Confiança. Encontrámo-nos aí com o Luís, um grande amigo de Pedrógão que ainda no mês passado nos acolheu na sua casa e nos matou a fome e a sede. Talvez influenciado pela nossa presença, o Luís andava a estrear a bike que havia comprado recentemente. Foi com alegria que o vi vir ao nosso encontro a pedalar. Qualquer dia já virá connosco.



Fomos então beber um sumo (há muito que o Alex pedia algo mais que água) ao café do mercado em Pedrógão Pequeno.
Ainda faltava ir até à Sertã onde um merecido banho e um jantar numa esplanada com vista para a ribeira esperava por nós.
No total acabaram por ser 110 quilómetros com um acumulado ascendente de 2125 metros e um dia muito bem passado.
O Alex e o Bruno acabaram por rumar a Leiria pelas 23.45 horas onde chegaram cansados mas bem.



O 4º capítulo será em princípio o desafio do TriunviratumBTT – Rota das Cidades Históricas a realizar em Agosto (a ver vamos).
Até lá.

terça-feira, 8 de julho de 2008

3º Capítulo

O salto do 2º capítulo deveu-se ao pedido de alguns amigos para que fosse adiado para uma data que permitisse a sua participação. Desse modo aproveitei para fazer algo que já tinha debaixo de olho há algum tempo.
Peguei no percurso dos 5 empenos e juntei-o ao do transpinhal (que não conhecia) o que deveria dar uma jornada a rondar os 100 quilómetros.

Não sei bem explicar porquê, mas há dias em que parece que a bike não está a 100% (ou se calhar sou eu). Há ali qualquer coisa que não bate certo, algo que me incomoda. Este foi um desses dias. Começou com a pressão dos pneus. Apesar de ser a habitual tive que parar por duas ou três vezes para tirar/ pôr ar até me sentir confortável em cima da bike. O pneu de trás teimava em escorregar nas subidas iniciais (mal eu sabia que mais tarde iria realmente descobrir o que era falta de tracção). Esta guerra acompanhou-me nos primeiros quilómetros e desapareceu algures entre as primeiras subida e descida do dia.


Como conhecia bem os primeiros quilómetros segui a bom ritmo até ao cruzamento dos dois percursos. Os mesmos seguem a par (com pequenas excepções) durante algum tempo, desde a Azinheira até à Relva. Ao fundo da Azinheira percorri mais uma vez o espectacular e muito técnico carreiro (prefiro o termo ao de single track) ao longo de alguns quilómetros acompanhando o curso da ribeira. A certo ponto o carreiro “desagua” numa desactivada levada de água que servia de motor a um dos vários moinhos de água da zona. “Desagua” o carreiro e eu também, é por ali que tenho que seguir.
No final fiz a primeira paragem para almoçar.




Esperava-me a subida para a Cabeça do Poço e outra para a Relva. A partir daí entraria no desconhecido. Sabia por onde iria passar após ter estudado o percurso no google earth mas as condições do terreno eram uma incógnita. Começou com caminhos florestais, mas rapidamente me deparei com vários carreiros “roubados” e bem aos percursos pedestres disponibilizados pela Câmara Municipal de Vila de Rei. A progressão era relativamente lenta devido à atenção que era necessário ter tanto com a roda da frente e com a lindíssima envolvência dos locais de passagem.



Um desses carreiros terminou num muito bem arranjado caminho empedrado que me levaria à pequena mas bonita localidade de Água Formosa com todas as casas em pedra e em excelente estado. Saí dali por mais um carreiro mas este bastante tapado por ervas e silvas onde me vi obrigado a seguir à mão algumas dezenas de metros. Foi aí que vi pela primeira vez um réptil voador. À minha frente, uma cobra saltou literalmente da encosta em cima para a de baixo sem tocar no chão. - Uma cobra a treinar para gato, pensei.



Continuei o caminho e atravessei várias hortas e pequenos quintais até que entrei num estradão bastante rápido e divertido onde pude finalmente meter a talega até que com um desvio à minha esquerda tudo mudou. Abandonei o estradão e entrei pelo mato dentro. A chuva que este ano se fez sentir até um pouco mais tarde do que é habitual fez com que as ervas crescessem demais tornando a progressão quase impossível, ora pela densidade da vegetação ora pela dificuldade em encontrar o caminho a seguir. Junte-se a isto o facto ter de atravessar a mesma ribeira três vezes (o que até soube bem devido ao calor que se fazia sentir) e demorei quase hora e meia para fazer 4 quilómetros. Media assustadoramente alta.
Mais à frente fiz a segunda paragem para almoçar, onde aproveitei para me esconder do sol e descansar as pernas.



Pouco à frente e numa das margens da ribeira esperava-me a subida até ao Milreu. O solo composto por areia e pedra solta tornava impossível não desmontar. Não gosto mesmo nada de o fazer, mas neste caso não havia outra hipótese. Não dava uma pedalada sem derrapar e quase não saía do sítio. Um esforço desnecessário uma vez que ainda havia muito caminho pela frente.
A chegada ao Milreu foi feita de sorriso nos lábios. Um misto de alegria (por deixar para trás aquele terreno) com boca seca, uma vez que a água já havia acabado há algum tempo. Parei no largo da igreja ao pé da fonte. Os vestígios da festa popular ainda se notavam. Pela quantidade de caricas no chão deu para perceber que os convivas estariam com tanta ou mais sede do que eu.



Continuei o caminho para Vila de Rei.
Aí chegado continuei o caminho que me lavaria até casa, faltavam ainda 48 quilómetros.
A saída de Vila de Rei foi feita por estradão, mas rapidamente entrei em mais um percurso pedestre que terminou numa bonita cascata.







Daí até à Fundada segui por um caminho já conhecido mas a parte final foi diferente e bastante engraçada, excepção feita a mais um troço onde as ervas abundavam.
Até à Relva do Boi segui quase sempre por estradão, e virei para a descida que leva até à ponte das Várzeas Carreiras onde me esperava uma subida longa e íngreme.




Nesta altura já começava a sentir a fadiga, e fui por ali acima calmamente até ao Chão da Telha. Continuei a subir para a Cumeada e daí até ao fim seria sempre a descer, uma vez que a Sertã fica num vale.
Foram 111 quilómetros bem durinhos com um acumulado ascendente de 2531 metros.



Fazendo a comparação com o primeiro capítulo, este teve só 19 quilómetros a mais e um acumulado semelhante. Nunca andei acima dos 560 metros, mas o sobe e desce constante sempre em terra e a dureza do percurso tanto a nível técnico (com muitos carreiros e subidas sem tracção) como físico fizeram com que chegasse muito mais cansado e tivesse demorado consideravelmente mais tempo.
É sem dúvida uma volta a repetir, à qual farei umas pequenas alterações, para fugir à parte da erva onde não é possível pedalar.
O 2º capítulo fica assim adiado, mas não anulado à espera de uma data a marcar posteriormente.
Até lá.