O salto do 2º capítulo deveu-se ao pedido de alguns amigos para que fosse adiado para uma data que permitisse a sua participação. Desse modo aproveitei para fazer algo que já tinha debaixo de olho há algum tempo.
Peguei no percurso dos 5 empenos e juntei-o ao do transpinhal (que não conhecia) o que deveria dar uma jornada a rondar os 100 quilómetros.
Não sei bem explicar porquê, mas há dias em que parece que a bike não está a 100% (ou se calhar sou eu). Há ali qualquer coisa que não bate certo, algo que me incomoda. Este foi um desses dias. Começou com a pressão dos pneus. Apesar de ser a habitual tive que parar por duas ou três vezes para tirar/ pôr ar até me sentir confortável em cima da bike. O pneu de trás teimava em escorregar nas subidas iniciais (mal eu sabia que mais tarde iria realmente descobrir o que era falta de tracção). Esta guerra acompanhou-me nos primeiros quilómetros e desapareceu algures entre as primeiras subida e descida do dia.
Como conhecia bem os primeiros quilómetros segui a bom ritmo até ao cruzamento dos dois percursos. Os mesmos seguem a par (com pequenas excepções) durante algum tempo, desde a Azinheira até à Relva. Ao fundo da Azinheira percorri mais uma vez o espectacular e muito técnico carreiro (prefiro o termo ao de single track) ao longo de alguns quilómetros acompanhando o curso da ribeira. A certo ponto o carreiro “desagua” numa desactivada levada de água que servia de motor a um dos vários moinhos de água da zona. “Desagua” o carreiro e eu também, é por ali que tenho que seguir.
No final fiz a primeira paragem para almoçar.
Esperava-me a subida para a Cabeça do Poço e outra para a Relva. A partir daí entraria no desconhecido. Sabia por onde iria passar após ter estudado o percurso no google earth mas as condições do terreno eram uma incógnita. Começou com caminhos florestais, mas rapidamente me deparei com vários carreiros “roubados” e bem aos percursos pedestres disponibilizados pela Câmara Municipal de Vila de Rei. A progressão era relativamente lenta devido à atenção que era necessário ter tanto com a roda da frente e com a lindíssima envolvência dos locais de passagem.
Um desses carreiros terminou num muito bem arranjado caminho empedrado que me levaria à pequena mas bonita localidade de Água Formosa com todas as casas em pedra e em excelente estado. Saí dali por mais um carreiro mas este bastante tapado por ervas e silvas onde me vi obrigado a seguir à mão algumas dezenas de metros. Foi aí que vi pela primeira vez um réptil voador. À minha frente, uma cobra saltou literalmente da encosta em cima para a de baixo sem tocar no chão. - Uma cobra a treinar para gato, pensei.
Continuei o caminho e atravessei várias hortas e pequenos quintais até que entrei num estradão bastante rápido e divertido onde pude finalmente meter a talega até que com um desvio à minha esquerda tudo mudou. Abandonei o estradão e entrei pelo mato dentro. A chuva que este ano se fez sentir até um pouco mais tarde do que é habitual fez com que as ervas crescessem demais tornando a progressão quase impossível, ora pela densidade da vegetação ora pela dificuldade em encontrar o caminho a seguir. Junte-se a isto o facto ter de atravessar a mesma ribeira três vezes (o que até soube bem devido ao calor que se fazia sentir) e demorei quase hora e meia para fazer 4 quilómetros. Media assustadoramente alta.
Mais à frente fiz a segunda paragem para almoçar, onde aproveitei para me esconder do sol e descansar as pernas.
Pouco à frente e numa das margens da ribeira esperava-me a subida até ao Milreu. O solo composto por areia e pedra solta tornava impossível não desmontar. Não gosto mesmo nada de o fazer, mas neste caso não havia outra hipótese. Não dava uma pedalada sem derrapar e quase não saía do sítio. Um esforço desnecessário uma vez que ainda havia muito caminho pela frente.
A chegada ao Milreu foi feita de sorriso nos lábios. Um misto de alegria (por deixar para trás aquele terreno) com boca seca, uma vez que a água já havia acabado há algum tempo. Parei no largo da igreja ao pé da fonte. Os vestígios da festa popular ainda se notavam. Pela quantidade de caricas no chão deu para perceber que os convivas estariam com tanta ou mais sede do que eu.
Continuei o caminho para Vila de Rei.
Aí chegado continuei o caminho que me lavaria até casa, faltavam ainda 48 quilómetros.
A saída de Vila de Rei foi feita por estradão, mas rapidamente entrei em mais um percurso pedestre que terminou numa bonita cascata.
Daí até à Fundada segui por um caminho já conhecido mas a parte final foi diferente e bastante engraçada, excepção feita a mais um troço onde as ervas abundavam.
Até à Relva do Boi segui quase sempre por estradão, e virei para a descida que leva até à ponte das Várzeas Carreiras onde me esperava uma subida longa e íngreme.
Nesta altura já começava a sentir a fadiga, e fui por ali acima calmamente até ao Chão da Telha. Continuei a subir para a Cumeada e daí até ao fim seria sempre a descer, uma vez que a Sertã fica num vale.
Foram 111 quilómetros bem durinhos com um acumulado ascendente de 2531 metros.
Fazendo a comparação com o primeiro capítulo, este teve só 19 quilómetros a mais e um acumulado semelhante. Nunca andei acima dos 560 metros, mas o sobe e desce constante sempre em terra e a dureza do percurso tanto a nível técnico (com muitos carreiros e subidas sem tracção) como físico fizeram com que chegasse muito mais cansado e tivesse demorado consideravelmente mais tempo.
É sem dúvida uma volta a repetir, à qual farei umas pequenas alterações, para fugir à parte da erva onde não é possível pedalar.
O 2º capítulo fica assim adiado, mas não anulado à espera de uma data a marcar posteriormente.
Até lá.
3 comentários:
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Grande ferrão...faltavas tu na Nocturna...mas vi q andaste bem atarefado...
Mais uma vez...impressionante!!
Abraço do Faisca
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